Quase 40 milhões de pessoas tiram anualmente fotografias ao letreiro da Coca-Cola em Times Square – ou aí vão ao cinema, assistem a uma peça de teatro musical ou tentam, simplesmente, compreender o que significa estar na mais famosa encruzilhada do mundo; e também há quem por lá só pare na passagem de ano. Mas poucos sabem que algures sob os seus pés se esconde desde 1961 um local de peregrinação para melómanos: num dos corredores do metropolitano está a Record Mart, uma loja de discos especializada em música latino-americana. O seu fundador, Jesse Moskowitz, começou por vender os pioneiros álbuns da Fiesta (de Randy Carlos ou José Curbelo) e da Seeco (de Rafael Cortijo ou Celia Cruz) mas rapidamente passou a fazer importações da América do Sul. Com a febre da música latina a alastrar-se, os seus influentes empregados (incluindo o ativista Harry Sepúlveda) não tiveram mãos a medir: testemunharam a ascensão da Fania (e a explosão de popularidade de nomes como Joe Bataan, Mongo Santamaria, Ray Barretto, Willie Colón ou Fania All-Stars), aconselharam os DJ do Paradise Garage e Studio 54 (François Kevorkian, Larry Levan ou Nicky Siano), viram surgir pequenos selos (da Coco à Salsoul) e, como poucos, tomaram o pulso à diáspora afro-caribenha da cidade. Quando, em 1975, Al Santiago (o antigo proprietário da Alegre, que havia lançado os irmãos Palmieri ou Johnny Pacheco) sugeriu a Moskowitz que fundasse uma editora, deu-lhe os primeiros artistas e o batismo: pela Montuno viriam a passar excêntricos grupos cubanos (Son de la Loma), porto-riquenhos (Batacumbele), haitianos (Scorpio), brasileiros (Airto Moreira e Flora Purim) ou de essência nova-iorquina (Tambó ou Yambú), e ouvi-los hoje nesta retrospetiva organizada por Pablo Yglesias implica ressuscitar uma cultura há demasiado tempo mantida no subterrâneo – literalmente.
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