Sintético e sinestésico, o Tamba Trio de “Avanço” – com Luiz Eça (piano e voz), Bebeto Castilho (contrabaixo, flauta, saxofone e voz) e Hélcio Milito (bateria, percussão e voz) – dispôs metodicamente as vitais linhas de força da música popular brasileira de 63 num quadro de invulgar subtileza. Numa manifestação compósita e dinâmica de procedimentos associados às mais diversas correntes (logo às da bossa nova e jazz, claro, mas igualmente às que originavam da tradição dos conjuntos vocais, da música regional ou da música erudita), a sua acção no período definiu um elegante espaço de confluência, atrição e metamorfose que, observando apenas formações análogas (Bossa Jazz Trio, Som 3, Milton Banana Trio, Bossa Três, Sambalanço Trio, Zimbo Trio, etc), raramente encontrou equivalência. Mesmo analisando a sua interpretação de temas – à altura, estreados há poucos meses – cujos sinais vitais foram subsequentemente sugados, como ‘Garota de Ipanema’, ‘Mas Que Nada’ ou ‘Só Danço Samba’, há aqui uma exuberância harmónica, um impoluto melodismo ou um impressionista cromatismo absolutamente singulares. Coadjuvado por Durval Ferreira ao violão, e por um conjunto de dez violoncelos que conduziram ‘Moça Flor’ e ‘Esperança’ – ambas do guitarrista de Os Gatos – a um inusitado grau de dramatismo tímbrico, o trio entrega-se aos intertextuais arranjos de Eça, que, mais do que pela sumária elencagem de distintas matrizes, surpreendem pela sua económica e subtractiva natureza. O modelo duraria mais um par de álbuns, deixaria lastro em colaborações com Marcos Valle, Nara Leão, Edu Lobo ou Quarteto em Cy, ganharia enlevo no LP “Luiz Eça e Cordas” e novo fôlego em futuras encarnações do grupo: nos Tamba 4 do par de gravações de 67 para a norte-americana A&M e no reformado trio do seminal “Tamba”, de 74. Hoje, o verdadeiro avanço seria voltar a todos eles.
[Informação complementar]
Eis, na mesma tangente, 30 álbuns essenciais de 1963:
e um Top10 de álbuns com arranjos de Luiz Eça:
[Informação complementar]
Eis, na mesma tangente, 30 álbuns essenciais de 1963:
Agostinho dos Santos “Vanguarda”
Antonio Carlos Jobim “The Composer
of Desafinado Plays”
Alaide Costa “Afinal”
Baden Powell “À Vontade”
Bossa Nova Modern Quartet “Bossa
Nova Jazz Samba”
Bossa Três “Bossa Três”
Breno Sauer Quinteto “Sambabessa”
Carlos Lyra “Depois do Carnaval”
Doris Monteiro “Gostoso é Sambar”
Ed Lincoln “Seu Piano e Seu Órgão
Espetacular”
Edison Machado “Edison Machado é
Samba Novo”
Elza Soares “Sambossa”
João Donato “Bossa Muito Moderna”
João Mello/Tamba Trio – “A Bossa da Balanço”
Jorge Ben “Samba Esquema Novo”
Leny Andrade “A Arte Maior de Leny
Andrade”
Lúcio Alves “Balançamba”
Luiz Chaves “Projeção”
Manfredo e Seu Conjunto “Bossa Nova
Nova Bossa”
Marcos Valle/Tamba Trio “Samba
Demais”
Miltinho “Bossa e Balanço”
Milton Banana “O Ritmo e o Som da
Bossa Nova”
Os Cariocas “A Bossa dos Cariocas”
Pery Ribeiro “Pery é Todo Bossa”
Quarteto em Cy/Tamba Trio “Som
Definitivo”
Roberto Menescal “A Bossa Nova de
Roberto Menescal e Seu Conjunto”
Stan Getz e Luiz Bonfá “Jazz Samba
Encore!”
Sylvia Telles “Bossa Balanço Balada”
Tito Madi “Amor e Paz”
Walter Wanderley “Samba no Esquema
de Walter Wanderley”e um Top10 de álbuns com arranjos de Luiz Eça:
Edu Lobo “A Música de Edu Lobo por
Edu Lobo” (1965)
Flora Purim “Flora é M.P.M” (1964)
Joyce “Encontro Marcado” (1969)
La Família Sagrada (1970)
Luiz Eça “Luiz Eça e Cordas” (1965)
Maysa “Barquinho” (1961)
Milton Nascimento “Travessia” (1967)
Nara Leão “O Canto Livre de Nara”
(1965)
Osmar Milito “E Deixa o Relógio
Andar” (1969)
Tito Madi “A Fossa” (Vols I, II, III & IV – 1971/1974)
Sem comentários:
Enviar um comentário