4 de outubro de 2014

Trio 3 & Vijay Iyer “Wiring” (Intakt, 2014)



Tratar-se-á, este, de um ciclo tão irracional e ininterrupto quanto essoutro que nos faz desejar seguir um ente querido para o além? Tome-se o final de “Blues People”, de Amiri Baraka, lançado em 1963: “Não é segredo para ninguém que o Ocidente se acha agora na posição de ter de proteger os seus valores e ideais contra sistemas que lhe são totalmente hostis. E que ao negro norte-americano está a ser pedido que se engaje nessa defesa. (…) Mas na sua mente há uma interrogação (o que explica o poder de atração de grupos islâmicos): o que é, ao certo, que lhe está a ser pedido que salve? É uma pergunta legítima, e é bom que a América encontre resposta.” Pouco depois, logo que Baraka fundou a Jihad Productions, era óbvio que a questão continuava por resolver. Mas meio século mais tarde, nas suas notas de apresentação deste “Wiring”, publicadas postumamente, fica mais clara a simples ideia de outrora: esta música, que mais não é do que uma aparição num mundo em que erradamente se separa o poético do didático, serve para que se ganhe consciência de que uma sociedade se define também pela ação dos que coloca à sua margem. De acordo com tal premissa, Oliver Lake, Reggie Workman, Andrew Cyrille e Vijay Iyer dedicam aqui uma suíte a Trayvon Martin (“e a milhares como ele”), aquele acerca do qual, quando morto, Obama afirmou: “Podia ter sido eu há 35 anos”. Ou seja, só a má-fé revelará neste álbum – feito de jazz até ao tutano – o mesmo que foi sempre detetado em toda a arte livre: que, de algum modo, há algo de artificial no impulso que leva um homem a querer compreender outro diferente de si. Seja esse o ciclo que não se quer ver quebrado.

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