31 de outubro de 2015

Céu "Ao Vivo" (Sony, 2015)



Entramos de mansinho no camarim e damos com Céu e Dustan Gallas a ensaiar ‘Palhaço’, clássico de Nelson Cavaquinho, Oswaldo Martins e Washington Fernandes da década de 50. “Sei que é doloroso um palhaço/ Se afastar do palco por alguém/ Volta, que a plateia te reclama”, canta ela, com voz de menina ensonada. Já ele, mal dá o último acorde na sua Rickenbacker, espanta-se por a versão ter saído tão bem. “É”, responde-lhe Céu, “a gente é foda.” Não estamos definitivamente nos anos 50. Mas o clima não será assim tão informal quanto isso: afinal, num programa que, em DVD, se estende por 100 minutos, só uma enorme coincidência contraporia a esses versos iniciais aqueloutros, de Bob Marley, com que a atuação termina: “Never known what happiness is/ I’ve never known what sweet caress is/ Still, I’ll be always laughing like a clown”. E é quando a ação se transfere para a sala do Centro Cultural Rio Verde, em São Paulo, que, prestando atenção aos adereços, se percebe até que ponto se acusa aqui a responsabilidade do teatro: há palmeiras, araras de porcelana, lustres e abajures de vime sintético, uma estátua de Iemanjá e, suspensas por detrás dos músicos, em néon, as palavras que dão o nome ao último CD de Céu, “Caravana Sereia Bloom”. Dos 24 temas no alinhamento, 11 provêm daí. Aliás, no filme, quiçá inadvertidamente, há um momento hilariante em que a banda discute se terá “deixado alguma coisa importante de fora”. Não, está cá tudo o que se precisa de saber sobre Céu e o seu conjunto, espécie de Bad Seeds consagrados à cumbia, ao bolero, à lambada, enfim, à grande música do inferno.

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