10 de outubro de 2015

Scriabin: Piano Sonatas (Paraty, 2015)




Varduhi Yeritsyan (p)
Quem, este ano, ignaro dos seus períodos de maior placidez e perturbação, se decida por explorar o alvor musical do século XX a pretexto do tricinquentenário do nascimento de Sibelius e do centenário da morte de Scriabin terá dificuldade em conciliar tudo o que se lhe puser por diante, conquanto se tratem, no seu essencial, dos frutos de uma mesma época: de um abissal mistifório, aquela, grosso modo, compreendida entre 1895 e 1915. Dir-se-ia, até, que pelos factos à disposição se pode ir dar a duas conclusões inteiramente contraditórias: primeiro, derivada da audição da cândida obra sinfónica do finlandês, por exemplo, que não se trata de uma fase tão agitada quanto se pensava; e segundo, em consequência da análise das convulsas peças para piano do russo, que, ao invés, ela foi mais prenhe em acontecimentos do que alguma vez se podia imaginar. Só assim é na superfície, como se sabe. Aliás, talvez por ter perfeita consciência dos semelhantes credos em que comungavam (vide respetivas inclinações teosóficas, transcendentais, seráficas, sobrenaturais, enfim, todo o colesterol do catecismo em que eram fartos) se tenha Glenn Gould socorrido de ambos num dos seus discos mais esotéricos: o “Acoustic Orchestrations”. Mas serve agora a sugestão para recordar, em Scriabin, o quanto se deteta ainda daquilo que parece absolutamente alheio a este mundo, permanecendo as dez sonatas como uma pendência dessa qualidade. Nelas, a arménia Varduhi Yeritsyan surge estrelante, cintilante e bruxuleante, sublinhando o sinuoso e intensificando o indicioso, tudo jungindo à inquietação, insinuação e sensualidade.

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