2 de outubro de 2015

Zomba Prison Project “I Have No Everything Here” (Six Degrees, 2015)



Pega-se no disco e lê-se: “Os nossos corpos podem permanecer na prisão, mas queremos estar em espírito com o mundo livre.” O grupo, constituído por reclusos do Centro de Correção de Powhatan, no estado da Virgínia, chamava-se Edge of Daybreak, e o seu único LP, de 79, vai ser reeditado pela Numero Group daqui a duas semanas. Já acerca do que pensa quem continua encarcerado na Prisão de Segurança Máxima de Zomba, no Malawi, ali onde se juntam as províncias moçambicanas de Niassa e Zambézia, nada se conhece. E foi por lá que Ian Brennan, a um continente de distância dos Lomax, e sob o pretexto de ir administrar cursos de Resolução de Conflitos e de Prevenção à Violência, registou este dilacerante CD. Encontrou detidos e detidas de todas as idades, uns quase tudo ignorando da vida, a gatinhar desde que nasceram na cadeia, outros com medo de algum dia se verem em liberdade, demasiado velhos para cuidarem de si. Gravou gente que mal erguia a cabeça mas que abria muito os olhos quando começava a cantar. Tentava saber porque ali estavam, mas ficava sem o que lhes responder quando revelavam acusações como homossexualidade e feitiçaria. Deu com uma banda masculina e com um coral feminino, cada qual na sua metade da prisão (são cerca de 2000 pessoas num espaço para 340), e poemas que se diriam a versão contemporânea de “Canções de Inocência e de Experiência”, de William Blake. À guitarra ou a cappella, trazem à memória Daniel Kachamba ou o kwela sul-africano. Em 20 temas, não há um que não dê mostras de estar corrompido pelas circunstâncias. Do mesmo modo, nenhum é menos que crucial.

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