2 de julho de 2016

Sugestões de verão (2016)



Golfam Khayam & Mona Matbou Riahi “Narrante” (ECM, 2016)
Para quem sente o verão como um exílio, ou como a expressão dilatada daquele silêncio que vai do encontro ao desencontro, as iranianas Golfam Khayam (guitarrista) e Mona Matbou Riahi (clarinetista) propõem uma versão decantada e encantada de melodias, práticas, ideias e saudades persas, presas a modalismos e memórias tão frágeis e delicadas que se diriam ficar desfeitas à primeira oscilação do ar.


Rafael Cortijo “The Ansonia Years: 1969-1971” (Vampisoul, 2016)
É o melhor de três discos: “Ritmos y cantos callejeros”, “Noche de temporal” e “Volumen 2”, gravados numa Nova Iorque em que se ignoravam ainda os sintomas da salsa. Mas Cortijo, que mantinha em Porto Rico o ouvido colado ao chão, sabia já o que só nas esquinas do Bronx se adivinhava: que essa febre que devoraria as Caraíbas e o mundo dependeria do vernáculo. Aqui, reconduz bomba e plena à matriz.

RED trio & John Butcher “Summer Skyshift” (Clean Feed, 2016)
Possui um começo dramático, “Summer Skyshift”, com Rodrigo Pinheiro de braços abertos sobre as pontas do teclado no momento exato em que o quadro tonal que desperta recebe uma inesperada coloração vinda dos céus. E mal se regista o som desse avião dir-se-ia que o quarteto não torna a aterrar. Mas não é verdade: dos mais celíferos aos mais telúricos, visitam-se aqui todos os ciclos da improvisação.
 
Sonny Rollins “5 Original Albums” (Universal, 2016)
É uma nova coleção saída dos arquivos da Prestige ou da Riverside, esta dos “5 Original Albums”. E entre títulos consagrados a Coltrane, Monk ou Miles é o de Rollins a revelar-se mais consistente, reunindo em exclusivo LP editados em 1956: “Worktime”, “With The Modern Jazz Quartet”, “Tenor Madness”, “Moving Out” e o titânico “Saxophone Colossus”, com o saxofonista a atingir de vez a verticalidade.

Glass/Muhly: In the Summer House/Four Studies
Angela Chun (vn), Jennifer Chun (vn) (Harmonia Mundi, 2016)
Muhly sucumbe mais facilmente ao poder da sugestão. Isto, falando daquilo que possui em comum com um minimalista. E neste “Four Studies”, dedicado às Chun, parece recorrer ao cânone só para o iludir. Mas, aqui, até o Glass de “In the Summer House”, transcrita para dois violinos, opta pela subtileza.

Haydn: 107 Symphonies (Decca, 2016)
Recorrendo a material de arquivo (Hogwood/Academy of Ancient Music ou Brüggen/Orchestra of the Age of Enlightenment) e recente (Dantone/Accademia Bizantina) cria-se uma integral adaptada das sinfonias de Haydn em instrumentos de época. Melhor, só em 2032, data prevista para a conclusão dos trabalhos de Antonini/Il Giardino Armonico. É o som de dezenas de verões passados em Eisenstadt e Eszterháza.

Vivaldi/Piazzolla/Shor: The 12 Seasons
David Aaron Carpenter (va), Salomé Chamber Orchestra (Warner, 2016)
Escutam-se as “Four Seasons of Manhattan”, de Shor, e percebe-se que estão aqui a dar alguma cor local. Até porque Carpenter, em violeta, só a custo situa “Le quatro stagioni” em Veneza. Mas nas “Cuatro Estaciones Porteñas” revela que há coisas que são de um sítio só antes de serem do mundo inteiro.

“The Art Of Yehudi Menuhin” (Warner, 2016)
Para quem possua toda uma vida para dedicar à música há sempre a opção “The Menuhin Century” (80 CD + 11 DVD + Livro). Depois, há caixas que exigem um compromisso menor, como a surpreendente “Unpublished Recordings and Rarities” (22 CD). Mas para quem associa o verão a enlaces mais casuais, nada como esta antologia, a espuma da imperial relação de Menuhin (1916-1999) com a EMI ao longo de 70 anos.

Sem comentários:

Enviar um comentário