18 de agosto de 2018

"Black Man’s Pride 2" (Soul Jazz, 2018)

Afinal, não tinha ficado tudo dito, longe disso, pese embora se prossiga pelo caminho indicado por Alton Ellis em ‘Black Man’s Pride’ precisamente, há coisa de um ano incluído no primeiro volume desta série. Aí, escutava-se a sua voz e o que saltava à memória era o canto do rouxinol em “A Terra Devastada”, de Eliot, basicamente a pregar no deserto, distante do mundo dos homens, inviolável mas incompreensível. Trata-se de um sentimento extensível a muitos dos que aqui se ouvem, a tradução de uma monstruosidade literalmente tatuada na pele (“Oh, eu não nasci para vencer / Pois sou um homem negro”, lamentava-se Ellis): de que viver tão longe do sítio de onde se veio é o mesmo que morrer no meio de lugar nenhum. Daí, quiçá, para cobrir tal distância, esta arregimentação sem precedentes entre os desapossados de Kingston, parte de uma tribo em tudo periférica – que não invisível – ao planeamento urbano: os rastafári. Ou seja, regressa a Soul Jazz ao Studio One como terreno fértil para analisar o impacto da modernização nas estruturas sociais jamaicanas, espécie de balão-de-ensaio para as experiências mais dissociativas, através de gente como Ellis, novamente, Horace Andy, Heptones, Gladiators, Ernest Wilson, Prince Lincoln ou Count Ossie, à frente de um pelotão de desconhecidos que, não obstante, soube reclamar a sua quota-parte neste ato de imaginação coletivo: o da cidade enquanto centro cívico, comercial e cultural. Por enquanto, claro, ali entre os anos 60 e 70, entrincheirada em bairros de lata, estava longe de o ser – mesmo se o planeta inteiro começava a mostrar-se sensível às palavras de Bob Marley, Bunny Wailer ou Peter Tosh, cronistas da desigualdade social com sede nas barracas de Trench Town. Aliás, volta-se à compilação e percebe-se que, conquanto nada peregrina, a verdadeira questão, aqui, é: como é que o lugar a partir do qual se lança a semente da transformação no mundo é o mesmo que resiste mais a qualquer mudança? É essa a tragédia da Jamaica. E a nossa.

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