13 de abril de 2019

Akofa Akoussah “Akofa Akoussah” (Mr Bongo, re. 2018)

No Togo, foi uma espécie de tesouro nacional. Concediam-lhe honras, títulos e galardões. Organizavam-se galas. Nos jornais, o seu nome era referido de modo encomiástico. E, em discursos de aceitação, era na capa deste seu radiante álbum de 1976 que se pensava quando afirmava coisas como esta: “Estou convencida que, com a minha música, faço chegar alguma desta alegria que me anima àqueles que, por força das circunstâncias, não têm hoje razões para sorrir.” Em Lomé, a designação do seu programa de rádio dizia tudo: “Amicalement Vôtre”. No entanto, viveu na sombra: primeiro, com o desaparecimento de Bella Bellow em 1973; depois, consumida pelo regime de Eyadéma Gnassingbé. Aliás, escuta-se este seu LP e imagina-se a sua dor ao ver abortado o que para todos os efeitos se assemelhava a um gradual processo de emancipação – pois, não mais viria Julie Akofa Akoussah a gravar, assim, tão solta da tutela ideológica, tão independente face àquele insidioso dispositivo que determina uma coletivização concetual de África. 

E fê-lo, efetivamente, porque Gérard Akueson, o produtor de Bellow, deixado órfão e desamparado pela morte tão trágica e abrupta da sua estrela, precisava de voltar a sentir esperança e, claro, porque não podia passar sem o êxito: “Finalmente! Depois da inesquecível Bella Bellow, eis uma voz togolesa capaz de defender as cores do seu país. Ouçam bem este disco, dêem-no a conhecer aos vossos amigos. Vão ver que tenho razão”, escrevia na contracapa. Até tinha, mas a verdade é que nem todas as carreiras internacionais pegam de estaca, além de que, no fundo, Akueson obtinha mais dividendos graças à presença na Europa da congolesa Abeti Masikini, com que se viria a casar. Julie, de resto, caminhava em direção contrária à do seu próprio país, que promovia então o “retour à l'authenticité”. De facto, nada menos “autêntico” do que este repertório aberto ao mundo, do que estes arranjos rasgados por solos de saxofone eletrificados e por guitarras distorcidas que se diriam gravados em Memphis, nos estúdios Muscle Shoals. Julie faleceu há uma dúzia de anos. A par do que cantou com os Mélo-Togo ou os Elégance Jazz e ao lado de Roger Damawuzan [na foto, ao lado de Julie] é pelo que fez aqui que deve ser lembrada.

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