27 de abril de 2019

Milton Banana “The Rhythm and the Sound of Bossa Nova/Balançando” (Aquarela do Brasil, re. 2019)

Milton Banana acertou na muche quando intitulou como “Tipo Exportação (Samba é Isso)” um dos seus álbuns. Afinal, tinha contribuído decisivamente para o fenómeno. Em ‘Vaia de Bêbado Não Vale’, Tom Zé versificou-o assim: “Quando aquele ano começou/ Nas Águas de Março de 58/ O Brasil só exportava matéria-prima/ Essa tisana/ Isto é o mais baixo grau da capacidade humana/ E o mundo dizia/ Que povinho retardado/ Que povo mais atrasado/ A surpresa foi que no fim daquele mesmo ano/ Para toda a parte/ O Brasil d’O Pato/ Com a bossa-nova/ Exportava arte/ O grau mais alto da capacidade humana/ E a Europa, assombrada:/ Que povinho audacioso/ Que povo civilizado.” Como se sabe, mesmo após ter conquistado o planeta, a divisão do espólio da bossa gerou sobretudo ressentimentos: “Assim como João Gilberto com a batida do violão, Milton Banana seria um homem rico se tivesse recebido uma fração de centavo por cada disco ou show em que os bateristas internacionais usaram a batida da Bossa Nova”, escreveu Ruy Castro em “A Onda Que se Ergueu no Mar”, fantasiando com uma balança comercial mais equilibrada. Talvez por isso, em junho de 1990, Edison Machado, um dos pares de Milton, no pequeno concerto na boate People com o qual anunciava a quem quisesse ouvir o seu regresso ao Brasil depois de catorze anos passados no exterior, se tenha a certa altura chegado ao microfone e desabafado: “Sabe lá o que é ganhar pouco e divulgar um continente?” Passados três meses estava morto. Também Milton viria a falecer algo esquecido, sem privilégios, nem pensões, faz agora 20 anos, a 15 de maio de 1999 (não a 22 de maio de 1998, conforme se lê na contracapa da presente reedição), com a mágoa de ofensas passadas concentrada numa lapidar mensagem de luto deixada com uma coroa de flores no seu funeral: “A Milton, a quem o Brasil não homenageou nem reconheceu nunca. Ass.: todos os músicos do Brasil”. Foi João Gilberto quem a enviou – o mesmo com que Banana havia gravado “Chega de Saudade” e “Getz/Gilberto”. Estes extraordinários LP em nome próprio lançou-os em 1963 e 1966: uma catedral de ritmo feita de pele e osso.

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