19 de abril de 2019

Fred Frith “All Is Always Now – Live At The Stone” (Intakt, 2019)

É o próprio Frith que logo explica a que vem, em breve nota introdutória: “Entre 2006 e 2016 dei 80 concertos na Stone [a irredutível e irredimível sala de espetáculos fundada por John Zorn numa esquina da Greenwich Village em 2005 e há um ano transferida fisicamente para o espaço do New Glass Box Theatre, no campus da New School]. Uns foram gravados, outros não. A música [essa] foi sempre improvisada. Sem quaisquer ensaios, sem grandes conversas. Em alguns casos nunca havíamos tocado juntos, noutros conhecíamo-nos perfeitamente uns aos outros.” Trata-se de uma apresentação factual que logo traz à memória o que escrevia por alturas de “Guitar Solos”, o seu primeiro disco: “Todos os temas foram improvisados: uns completamente, outros a partir de esboços preconcebidos.” Isto foi em 1974. E em todos estes anos pouco mudou. Aliás, no livreto de “Closer to the Ground”, o álbum que gravou em janeiro de 2018 com Jason Hoopes e Jordan Glenn, medita sobre outra constante: “Tomei há pouco consciência que desde 1965 não se passou um dia em que não fizesse parte de uma banda. Aparentemente é algo de que necessito. É um modo como nenhum outro de obter resultados. É como estar na rua e em casa ao mesmo tempo.” 

O que lembra uma coisa que disse no verão de 2014, em entrevista ao Expresso: “Fazer parte de um coletivo apresenta um conjunto de desafios únicos, é certo, mas possui, também, vantagens muito evidentes.” No fundo, é a essa predileção por sistemas colaborativos que “All is Always Now” dá, agora, expressão, de maneira exponencial: em três horas de música, Frith toca em trio com Hoopes e Glenn, Nava Dunkelman e Amma Ateria, Theresa Wong e Annie Lewandowski, Ikue Mori e Nate Wooley, Pauline Oliveros e Else Olsen Storesund, e em duo com Sudhu Tewari, Sylvie Courvoisier, Clara Weil, Miya Masaoka, Evan Parker, Gyan Riley, Shelley Hirsch e Laurie Anderson [na foto]. Gente suficientemente parecida e em simultâneo bastamente diferente para que, no seu melhor (nas peças com os últimos três nomes da lista, digamos), a improvisação se revele uma forma de, na música, cantar aquilo que não pode mesmo ser cantado, que existe apenas na sempiternidade, em elisões e ilusões que, mais que intuir, se podem habitar, no ponto em que é e já não é de cada um tudo aquilo que se pensa e sente. Frith tem esperança que seja assim.

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