Almaz, em russo, quer dizer diamante – o que, despertando uma certa perplexidade idiomática, explicará a capa. Já a opção por um tema de abertura (‘Errare Humanum Est’, de Jorge Ben) inspirado por escritos alquímicos que, segundo mitologia greco-egípcia, foram gravados precisamente por uma ponta de diamante fará que se pressuponha um arremesso conceptual. Mas, na verdade, jamais se chega a impor tal ordem de trabalhos. E a sincrética ‘ideia forte’ que quase se adivinha é, pelo contrário, diluída numa aleatoriedade digna de um motor de pesquisa que fixa repertório sem aparente razão. Dir-se-á que Seu Jorge, António Pinto (compositor da música para “Central do Brasil” ou “Cidade de Deus”), Lúcio Maia e Pupillo (estes, activistas na Nação Zumbi) se deixaram, como o Caetano Veloso recente, guiar pelo prazer de aplicar uma dimensão sonora ‘de banda’ a canções que mais ninguém – ou, no limite, um número infinito de macacos experimentando indefinidamente no iTunes – alinharia da mesma maneira. Mas a monotonia do exercício nega-o. Porque raramente se desviam os arranjos da construção de uma narcótica nebulosa em que respire tranquilamente o ‘barítono de baseado’ de Seu Jorge, contrariando a natureza de matéria-prima tão expansível quanto ‘Cristina’ (Tim Maia), ‘Saudosa Bahia’ (Noriel Vilela) ou ‘Tempo de Amor’ (Baden Powell e Vinicius de Moraes). Indistintas pela submissão a uma fórmula que garante aceitação contemporânea, estas versões – também de ‘The Model’ (Kraftwerk), ‘Cala a Boca, Menino’ (Dorival Caymmi para João Donato), ‘Everybody Loves the Sunshine’ (Roy Ayers), ‘Rock with You’ (Rod Temperton para Michael Jackson), ‘Girl You Move Me’ (Cane and Able), ‘Pae João’ (Tribo Massáhi), ‘Cirandar’ (Martinho da Vila) e ‘Juízo Final’ (Nelson Cavaquinho) – reflectem, isso sim, um tempo em que a mera citação se manifesta como um sintoma de profundidade
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