23 de junho de 2012

Candy McKenzie “Lee ‘Scratch’ Perry Presents Candy Mckenzie” (Trojan, 2012)


Falta-lhe consistência, direção e consciência dos seus próprios expoentes. E tanto desperta riso quanto compaixão. Pois, embora despreze os elementos necessários à solução dos problemas que levanta, a verdade é que nele se pressente o esfumar dos sonhos de uma talentosa inglesa de vinte e poucos anos que, sem o saber, não ganharia nova oportunidade para os concretizar. E, no entanto, 35 anos após a sua gravação, mesmo tendo este disco permanecido inédito, encontra-se no seu figurino matéria capaz de revelar importantes factos sobre a mais famosa arca perdida da história da música: os estúdios Black Ark de Lee Perry. Nomeadamente, que através desta emissária britânica – e com Ernest Ranglin, Boris Gardiner e os Third World em estado de graça – experimentou o arauto jamaicano a sua própria versão do lovers rock. Ou, confirmando o que a descoberta há seis anos de outro álbum perdido sugeria (nas sessões de dois zairenses publicadas enquanto “Lee Perry presents African Roots”), que, em 77, se transferiria para outros projectos a presença de espírito revelada em “Heart of the Congos” (dos mesmos que agora regressaram numa colaboração com Sun Araw e M. Geddes Gengras). Aliás, terá faltado apenas mais tempo e discernimento, e um empenho maior na composição (são da autoria de McKenzie ou Perry os temas que aqui se acercam de contornos clássicos e versões do eixo country-soul os dispensáveis), para que, também neste caso, o produtor atingisse o grau de invenção patenteado em trabalhos com Max Romeo, Junior Murvin ou Heptones. Mas, à semelhança da estreia dos Congos, este ensaio de McKenzie foi recusado pela Island e à cantora não garantiu mais do que uma posição de segunda linha, fazendo trabalhos de estúdio em Londres no auge das febres acid house e acid jazz e harmonias para Gary Moore, Serge Gainsbourg ou Elton John. Faleceu em 2003.

Sem comentários:

Enviar um comentário