A
nominal contração Kollywood refere-se ao local onde se concentra a indústria
cinematográfica – segunda maior da Índia em volume, difusão e rentabilidade – em
língua tâmil, com sede no bairro Kodambakkam, de Chennai, um pólo comercial da
Baía de Bengala. E, como em Bollywood, a sua congénere hindi em Bombaim, também
aqui se criou uma desproporcional e sincrónica recomposição dos códigos de
poder e fantasia metonimicamente associados a Hollywood, com enfática reincidência
no filme musical. Essa predominância narrativa da canção coreografada, ainda
que de esquemática e arquetípica fundação, associada a licenciosas emissões (há
registos de tempos áureos com o lançamento anual de mais de mil títulos no
mercado), estimulou variantes de extático experimentalismo e hiperbólico
funcionalismo e, fundamentalmente, ancorou-se em figuras de elástica
polivalência, com sentido do épico mas minuciosa atenção ao detalhe, exatidão
técnica e coloquialismo estilístico, capazes de acompanhar abrangentes
alegorias destinadas a dilatar os limites da empatia. É num regime de
invariável polarização que editoras como a Finders Keepers – outra de notável
pendor antológico é neste domínio a Bombay Connection – visitam estas
produções, ainda para mais sugerindo uma análise fraturante da obra
audiovisual, exclusivamente focada numa banda sonora em que prevalece o endemicamente
excêntrico mas igualmente a caricatura do ocidente. O compositor Ilaiyaraaja e
a cantora K.S. Chithra ilustram esta bizarra mimese num libertino compêndio extraído
de centenas de colaborações em que, entre 1986 e 1991, temperaram sacarinas
indulgências com um intransigente futurismo, equilibrando arrebatamento
folclórico e esoterismo robótico, numa ação que traz à memória a Yellow Magic
Orchestra e que testemunha esteticamente o ápice e o ocaso tecnológico na
música dos anos 80.
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