18 de agosto de 2012

Jagwa Music “Bongo Hotheads” (Crammed, 2012)

Por sugestão da editora não cessam na imprensa internacional comparações entre os tanzanianos Jagwa Music e os congoleses Konono Nº1, embora raramente se ressalve tal afinidade enquanto meramente procedimental. Nesse particular, já agora, revelar-se-ia de maior acutilância a evocação dessoutros desalinhados de Kinshasa, os Classic Swédé Swédé, revelados ao mundo pela mão da mesmíssima Crammed no longínquo 1991, então responsáveis por uma efémera aceleração rítmica com audaz enfoque percussivo e, também como neste caso, dispensa da guitarra elétrica e homóloga petulância lírica, não obstante num enquadramento responsorial daqui ausente. Isto porque, de facto, não seria a primeira vez que se estabeleceria um diálogo crucial entre agentes destes dois contíguos países que apenas por desatenção geográfica se alinha em exclusivo com dogmas da áfrica oriental ou ocidental. Bastará relembrar a produção em Dar Es Salaam nas décadas de 60 e 70 (de Nuta Jazz, Mlimani Park, Maquis Original, Vijana Jazz ou Dar International) para identificar uma realidade que em tudo o comprova, tal como testemunha a série “Zanzibara” que Werner Graebner organiza para a Buda. É Graebner, aliás, um académico alemão com presença fulcral na capital artística da Tanzânia, que apresenta estes Jagwa Music, praticantes de uma tendência (a mchiriku) já identificada em finais dos anos 90 (com ascendência na tradição ngoma da tribo zaramo), mas que, presumivelmente, se concentra agora numa tumultuosa manifestação de rua que combina megafones, tambores e, enquanto exclusivo instrumento harmónico, um órgão Casio de meados de 80 ao serviço de histórias de inveja, injustiça e insolência narradas por um atlético cantor algures entre Remmy Ongala e os menos soporíferos MCs de hip hop local que em 2004 a Out Here reuniu em “Bongo Flava”.

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