11 de agosto de 2012

Zani Diabaté & Les Héritiers “Tientalaw” (Sterns, 2012)


Acaba de ser lançado a título póstumo este álbum e, inesperadamente, sobe um valor patrimonial que, à altura da morte de Diabaté, no ínicio de 2011, se assignava em sentido estrito a seu filho, Sinaly ‘Papa’ Diabaté, e a Alou ‘Baden’ Sangaré e Moussa ‘Vieux’ Fané, descendentes daqueles (Flani Sangaré e Alou Fané, há mais tempo falecidos) que consigo estiveram durante duas décadas na Super Djata Band. De facto, dificilmente passaria pelas cabeças deste trio de herdeiros que ultimar em estúdio as gravações já registadas salvaguardando a diversidade maliana representaria, à luz dos subsequentes acontecimentos no seu país, um acto de resistência. Porque a verdade é que, à semelhança da produção da banda dos seus pais, também em “Tientalaw” se procura honrar princípios de exaltação regional que, desde a independência e ao longo de períodos de instabilidade política, se diriam aí universais. Ainda que numa perspectiva contemporânea, naturalmente distante daquela mais vibrante e fundadora que os poucos discos da Djata Band patentearam entre 1980 e 1985, vislumbra-se nestes novos temas o programa estético que faz depender gestos de modernidade do conhecimento folclórico mandinga, fula, bozo ou wassoulou. Que um eco de semelhante legado cultural – com origem no tempo de Rail Band, Super Biton de Ségou, Kanaga de Mopti, Kéné Star de Sikasso ou Mystère Jazz de Tombouctou – ganhe publicação no momento em que em Bamako se fazem sentir as consequências do golpe e contra-golpe militares e que, mais a norte, islamitas tuaregues ao abrigo do Al-Qaeda impuseram a charia (há açoitamentos, notícia de um apedrejamento até à morte e procede-se à destruição de mesquitas, madraçais e centenários manuscritos considerados heréticos em Tombuctu), apenas revalida a lógica de um absurdo geográfico: o Mali também é aqui.

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