Acaba
de ser lançado a título póstumo este álbum e, inesperadamente, sobe um valor
patrimonial que, à altura da morte de Diabaté, no ínicio de 2011, se assignava
em sentido estrito a seu filho, Sinaly ‘Papa’ Diabaté, e a Alou ‘Baden’ Sangaré
e Moussa ‘Vieux’ Fané, descendentes daqueles (Flani Sangaré e Alou Fané, há
mais tempo falecidos) que consigo estiveram durante duas décadas na Super Djata
Band. De facto, dificilmente passaria pelas cabeças deste trio de herdeiros que
ultimar em estúdio as gravações já registadas salvaguardando a diversidade maliana
representaria, à luz dos subsequentes acontecimentos no seu país, um acto de
resistência. Porque a verdade é que, à semelhança da produção da banda dos seus
pais, também em “Tientalaw” se procura honrar princípios de exaltação regional
que, desde a independência e ao longo de períodos de instabilidade política, se
diriam aí universais. Ainda que numa perspectiva contemporânea, naturalmente
distante daquela mais vibrante e fundadora que os poucos discos da Djata Band
patentearam entre 1980 e 1985, vislumbra-se nestes novos temas o programa
estético que faz depender gestos de modernidade do conhecimento folclórico mandinga, fula, bozo ou wassoulou. Que um eco de semelhante
legado cultural – com origem no tempo de Rail Band, Super Biton de Ségou,
Kanaga de Mopti, Kéné Star de Sikasso ou Mystère Jazz de Tombouctou – ganhe
publicação no momento em que em Bamako se fazem sentir as consequências do
golpe e contra-golpe militares e que, mais a norte, islamitas tuaregues ao
abrigo do Al-Qaeda impuseram a charia (há açoitamentos, notícia de um
apedrejamento até à morte e procede-se à destruição de mesquitas, madraçais e centenários
manuscritos considerados heréticos em Tombuctu), apenas revalida a lógica de um
absurdo geográfico: o Mali também é aqui.
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