4 de agosto de 2012

Malawi Mouse Boys “He Is #1” (Irl, 2012)


Trata-se de ouvir para crer. Nenhum outro impulso justifica a investida de Ian Brennan pelo Malawi. Mas uma imprensa habituada a tratar factoides em vez de factos e a valorizar o episódico no lugar do histórico seduz-se por declarações que só merecem o benefício da dúvida: relata o produtor dos ruandeses Good Ones e dos tuaregues Tinariwen que partiu porque “quase nada no ocidente se conhecia dos malawianos”; que, comparando com a do Mali e Etiópia, “a sua actividade era invisível”; e que, como um “especialista em world music” lhe tinha categoricamente garantido que não encontraria aí produção de qualidade, “encarou a missão como um desafio pessoal”. Que Brennan e o tal experto não possuam as reedições da Sharp Wood de gravações de campo recolhidas no Malawi entre 52 e 58 por Hugh Tracey é uma coisa; que ignorem o trabalho de Daniel Kachamba, o da Chimvu River Jazz Band ou as antologias da Pamtondo já é mais grave; mas é improvável que nada saibam de dois documentários sobre a cena musical no país (“I Am Malawi”, de Geert Veuskens, e “Deep Roots Malawi”, de Kenny Gilmore, colocados por ambos no YouTube) que registam inspiradas prestações de Qabaniso Malewezi, Peter Mawanga, Gasper Nali ou Charles Mkanthamba. Mas, para sorte nossa, talvez por isso mesmo tenham sido precisos a Brennan “3000 km ao longo de duas semanas para vislumbrar um instrumento”. Encontrada à beira da estrada, esta trupe de vendedores de espetadas de rato-do-campo (daí o nome), com guitarras feitas de ferro-velho em riste, cantou-lhe em harmonia hinos devocionais (com possível origem presbiteriana mas entoados com étnico empenho responsorial chewa) que se ouvem como uma variante de baixa fidelidade daquele primeiro gospel patenteado por Five Blind Boys of Mississippi, Swan Silvertones ou Dixie Hummingbirds. E esta parte não é exagero. 

"I Am Malawi" (Part 1)


"I Am Malawi" (Part 2)


"Deep Roots Malawi"

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