Não
é Hal Willner quem quer. E ainda que seja golpe baixo, a pretexto desta
homenagem que até evitou repetir temas gastos, começar por evocar o nome
daquele que há 30 anos vem redefinindo o conceito de autoria em tributos
dirigidos a Nino Rota, Kurt Weill, Walt Disney, Charles Mingus ou Leonard Cohen,
a verdade é que ignorar-lhe por completo o tutorial será infâmia maior. Para
mais num caso de ímpar contumácia, resistente ao ecletismo postiço e ao impulso
globalista desta nova ordem mundial que Paul Ralphes, o expatriado britânico
encarregue da direção artística do projeto, procurou aviar com estratagemático
servilismo, empregando norte-americanos (Beck, Chrissie Hynde e Devendra
Banhart), uma banda inglesa (Magic Numbers), uma fadista (Ana Moura, em
‘Janelas Abertas Nº2’, uma canção tão estruturalmente portuguesa quanto ‘Os
Argonautas’), um espanhol (Miguel Poveda) ou um uruguaio (Jorge Drexler) mais
com mente nos respetivos mercados nacionais, parece, do que na produção de
mais-valia estética. Será uma forma de ver as coisas. Outra dirá que foi Paul
Heck e restante equipa da organização Red Hot a adiantar-se às festividades –
Caetano fez 70 anos em Agosto último – e gerar com um “Red Hot + Rio 2” editado
em Junho de 2011 o justo preito às mais utópicas manifestações do baiano. Seja
como for, trata-se de uma inesgotável herança que soube encontrar o êxtase no
mundano e o superficial no transcendente ou transformar transes pessoais em
experiências profanas de muitos e transas coletivas em experiências sagradas só
suas. Há aqui uma seleção brasileira (Céu, Marcelo Camelo, Tulipa Ruiz, Mariana
Aydar) que o compreendeu e outra (Sérgio Dias, Rodrigo Marante, Qinho, Momo,
Luísa Maita, Seu Jorge) que apenas traz à memória um verso em 75 escrito por
Caetano para a sua irmã Nicinha: “a
vida tem uma dívida com a música perdida”.
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