22 de setembro de 2012

“A Tribute to Caetano Veloso” (Universal, 2012)



Não é Hal Willner quem quer. E ainda que seja golpe baixo, a pretexto desta homenagem que até evitou repetir temas gastos, começar por evocar o nome daquele que há 30 anos vem redefinindo o conceito de autoria em tributos dirigidos a Nino Rota, Kurt Weill, Walt Disney, Charles Mingus ou Leonard Cohen, a verdade é que ignorar-lhe por completo o tutorial será infâmia maior. Para mais num caso de ímpar contumácia, resistente ao ecletismo postiço e ao impulso globalista desta nova ordem mundial que Paul Ralphes, o expatriado britânico encarregue da direção artística do projeto, procurou aviar com estratagemático servilismo, empregando norte-americanos (Beck, Chrissie Hynde e Devendra Banhart), uma banda inglesa (Magic Numbers), uma fadista (Ana Moura, em ‘Janelas Abertas Nº2’, uma canção tão estruturalmente portuguesa quanto ‘Os Argonautas’), um espanhol (Miguel Poveda) ou um uruguaio (Jorge Drexler) mais com mente nos respetivos mercados nacionais, parece, do que na produção de mais-valia estética. Será uma forma de ver as coisas. Outra dirá que foi Paul Heck e restante equipa da organização Red Hot a adiantar-se às festividades – Caetano fez 70 anos em Agosto último – e gerar com um “Red Hot + Rio 2” editado em Junho de 2011 o justo preito às mais utópicas manifestações do baiano. Seja como for, trata-se de uma inesgotável herança que soube encontrar o êxtase no mundano e o superficial no transcendente ou transformar transes pessoais em experiências profanas de muitos e transas coletivas em experiências sagradas só suas. Há aqui uma seleção brasileira (Céu, Marcelo Camelo, Tulipa Ruiz, Mariana Aydar) que o compreendeu e outra (Sérgio Dias, Rodrigo Marante, Qinho, Momo, Luísa Maita, Seu Jorge) que apenas traz à memória um verso em 75 escrito por Caetano para a sua irmã Nicinha: “a vida tem uma dívida com a música perdida”.

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