1 de setembro de 2012

Debo Band “Debo Band” (Next Ambiance/Sub Pop, 2012)



Se a mais fantasiosa construção sobre música cigana do último decénio se pariu em Manhattan – através dos Gogol Bordello do ucraniano Eugene Hütz – e se, por exemplo, a ressurreição estética da chicha peruana muito deve à ação de um francês residente em Brooklyn – Olivier Conan, da editora Barbès e do grupo Chicha Libre – não será propriamente pela improvável procedência que causa agora espanto esta esfuziante celebração. Aliás, Francis Falceto, o organizador da infinitamente exótica Éthiopiques, acabou de produzir, para a subsidiária Ethiosonic, uma compilação consagrada a música contemporânea etíope (“Noise & Chill Out – Ethiopian Groove Worldwide”, em que participaram Kronos Quartet, Either/Orchestra ou The Ex) evitando restringir-se aos códigos postais de Adis Abeba e na qual incluiu precisamente esta Debo Band, originária de Boston. Mas que os seus 11 elementos liderados pelo saxofonista Danny Mekonnen – entre os quais se alinham instrumentistas das mais variadas proveniências e, só para adoçar a história, se distingue um soprador dedicado ao sousafone, idealizado em finais do século XIX pelo luso-descendente John Philip Sousa – realizem variações sobre matrizes originais um pouco mais substantivas do que aquilo que no cinema se designaria como ‘filme de época’ será já motivo de admiração. E, no entanto, é disso mesmo que aqui se trata – disso e de uma visão pluralista do mundo capaz de rejeitar aquele patrulhamento da dignidade étnica que ainda controla os quatro cantos da diáspora digital e que, presumivelmente, em semelhante desiderato, nunca esbarrou com a ‘Grândola, Vila Morena’ tocada pela Liberation Music Orchestra, Revueltas interpretado pelo Willem Breuker Kollektief, Satie pela Vienna Art Orchestra ou até, lá está, Mulatu Astatke a quintessenciar aquela coisa rigorosamente etíope chamada “Afro-Latin Soul”.

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