8 de setembro de 2012

Le Mystère Jazz de Tombouctou (Kindred Spirits, 2012)


Na crua exposição nacionalista em que se transformou a música popular do Mali na década de 70, entre expoentes dados a infinitésima retalhação (observe-se o caótico espólio de Rail Band e Ambassadeurs du Motel), destacam-se duas séries eminentemente colecionáveis: a primeira, semeada pelo regime de Modibo Keïta e colhida pelo de Moussa Traoré, consiste num levantamento de 15 títulos editados pela alemã Bärenreiter-Musicaphon, entre os quais, sob a designação “Les Meilleurs Souvenirs de la 1ère Biennale Artistique et Culturelle de la Jeunesse (1970)”, se agrupou a produção desse ano das orquestras regionais de Ségou, Mopti, Sikasso e Kayes, da L’Orchestra National ‘A’ e da Rail Band; a segunda, datada de 1977, publicou-se com o selo Mali Kunkan e, de certa forma, complementa a anterior registando-lhe dramáticas transformações procedimentais. É desta precisamente que provém a fascinante Mystère Jazz de Toubouctou, registada neste singular LP lançado então ao lado de não menos deslumbrantes ensaios de Kéné-Star de Sikasso, National Badéma, Sidi Yassa de Kayes, Bida de la Capitale, Super Biton Nationale de Ségou ou Kanaga de Mopti, que, em conjunto, promoviam uma densa recomposição de códigos tradicionais mandingo, tamaxeque, bobo ou fula (para quem não compra vinil a preços exorbitantes, adiante-se que só o álbum da trupe de Mopti está atualmente disponível em CD e que “Mali 70: Electric Mali” compilou em 2008 um par de temas de cada). No momento em que Tombuctu está a saque – com a destruição da entrada sagrada na madraça de Sidi Yahya – convém relembrar este prodigioso manifesto de invenção e tolerância que, daí, por entre fanfarreados uníssonos de metais e hipnoides ostinato à guitarra elétrica, nos falou um dia de Alá, de mesquitas, do deserto, da chegada à lua e, naturalmente, de que tudo tem um fim.

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