Na crua
exposição nacionalista em que se transformou a música popular do Mali na década
de 70, entre expoentes dados a infinitésima retalhação (observe-se o caótico espólio
de Rail Band e Ambassadeurs du Motel), destacam-se duas séries eminentemente
colecionáveis: a primeira, semeada pelo regime de Modibo Keïta e colhida pelo
de Moussa Traoré, consiste num levantamento de 15 títulos editados pela alemã Bärenreiter-Musicaphon,
entre os quais, sob a designação “Les
Meilleurs Souvenirs de la 1ère Biennale Artistique et Culturelle de la Jeunesse (1970)”, se
agrupou a produção desse ano das orquestras regionais de Ségou, Mopti, Sikasso
e Kayes, da L’Orchestra National ‘A’ e da Rail Band; a segunda, datada de 1977,
publicou-se com o selo Mali Kunkan e, de certa forma, complementa a anterior
registando-lhe dramáticas transformações procedimentais. É desta precisamente
que provém a fascinante Mystère Jazz de Toubouctou, registada neste singular LP
lançado então ao lado de não menos deslumbrantes ensaios de Kéné-Star de
Sikasso, National Badéma, Sidi Yassa de Kayes, Bida de la Capitale, Super Biton
Nationale de Ségou ou Kanaga de Mopti, que, em conjunto, promoviam uma densa
recomposição de códigos tradicionais mandingo, tamaxeque, bobo ou fula (para
quem não compra vinil a preços exorbitantes, adiante-se que só o álbum da trupe
de Mopti está atualmente disponível em CD e que “Mali 70: Electric Mali”
compilou em 2008 um par de temas de cada). No momento em que Tombuctu está a
saque – com a destruição da entrada sagrada na madraça de Sidi Yahya – convém relembrar
este prodigioso manifesto de invenção e tolerância que, daí, por entre
fanfarreados uníssonos de metais e hipnoides ostinato à guitarra elétrica, nos falou um dia de Alá, de mesquitas,
do deserto, da chegada à lua e, naturalmente, de que tudo tem um fim.
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