Para
quem não tem lançado assim tantos discos ao vivo quanto isso (isto segundo os
parâmetros do mercado brasileiro, em que o formato se estabeleceu como uma engenhosa
solução para os mais predatórios e sinecuristas instintos da indústria musical)
custa que “Na Carreira” se apresente num escusado modelo compilatório ainda capaz
de gerar equívocos conceptuais: de facto, o que temos aqui não é tanto o
retrato de um (único) concerto quanto uma montagem de registos de mais do que
um (a ficha informativa explica que se trata de uma gravação de Fevereiro de
2012, efetuada na sala Vivo Rio, no Rio de Janeiro, na qual, acrescente-se, Chico
se apresentou 24 noites entre 5 de Janeiro e 12 do mês seguinte), gerando o
procedimento inevitáveis interrupções narrativas e, de tema para tema, inquietantes
divergências na ambiência emanante da plateia, confusas flutuações tímbricas vocais
e instrumentais e correções de pormenor na mistura que se provaram desajeitadas
na definição geral de um quadro sonoro coerente e equilibrado (numa última nota
técnica, pelo menos a edição portuguesa apresenta dois temas – ‘Se Eu Soubesse’
e ‘Sem Você Nº2’ – com a ordem trocada no áudio em relação à determinada por
contracapa e livreto). Não obstante o desacerto, decorre do roteiro de um
espetáculo construído em redor de clássicos mais ou menos obscuros do
cancioneiro de Buarque (‘Teresinha’, ‘O Meu Amor’, ‘Anos Dourados’ ou ‘Todo o
Sentimento’ ao lado das menos unificadoras ‘Ana de Amsterdam’, ‘Baioque’ ou ‘A
Violeira’, compostas para teatro e cinema) a confirmação de que as dez canções de
“Chico”, o álbum de inéditos de 2011, estão ao nível do melhor que o compositor
criou no último quarto de século. A banda, liderada por Luiz Claudio Ramos e pontificada por
Wilson das Neves, Chico Batera ou Jorge Helder, esteve naturalmente competente
e compreensivelmente ufana.
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