22 de novembro de 2014

Beethoven: Piano Concerto Nº 5; Sonata Op. 111 (Decca, 2014)




Nelson Freire (p), Gewandhausorchester, Riccardo Chailly (d)


Interessante exercício de contrastes, este, que nos propõem Freire e Chailly. Dir-se-ia, até, que a decisão de colocar peças tão distintas junto uma à outra quererá, por si só, dizer qualquer coisa. Talvez, quiçá, que a anunciada integral dos concertos para piano de Beethoven, agora iniciada, não ficará excessivamente sujeita aos compromissos da programação. Isto é, que a produção de Beethoven se manterá como um campo de ação eminentemente subjetivo. É o que se adivinha em depoimentos de Freire reproduzidos no livreto do CD: “O desenvolvimento nesta música é extraordinário: nenhum outro compositor percorreu um caminho criativo tão longo” ou “tudo depende da maneira em como nos sentimos. Criamos a música espontaneamente”. Entende-se melhor a última declaração no que diz respeito à peça para solista. Afinal, cada vez mais se ouve a “Sonata para Piano Nº 32 em Dó menor, Op. 111” como se de uma improvisação de um pianista de jazz particularmente enciclopédico se tratasse. Basta, por exemplo, observar o modo como Uchida ou Denk lhe descrevem as passagens mais incongruentes. Não tanto pelo seu poder de síntese, claro. Mas por tudo aquilo que, mesmo quando dá mostras de olhar para trás, prospeta ao futuro. Há algo desse espírito – à falta de outro termo, um certo desprendimento – neste “Concerto para Piano Nº 5 em Mi bemol maior”, vulgo “Imperador”. A diferença, como se sabe, é que o concerto é uma obra que só faz perguntas para as quais já tem resposta, e a sonata não. Por isso aparenta uma dirigir-se ao mundo dos homens e outra à morada dos deuses. Em todo o caso, Freire fica melhor no primeiro estádio. É na terra que fazem falta os poetas.

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