1 de novembro de 2014

Tony Malaby’s Tamarindo “Somos Agua” (Clean Feed, 2014)



Sim, somos água. E, já cantava Yoko Ono, “haveremos um dia de evaporar em conjunto”. Na altura, entre a década de 60 e a de 70, escorava-se a própria ideia de absoluto na mais abstrata das construções humanas: uma canção, aquilo que, de acordo com a célebre formulação de Cortázar, simbolizava para a música o que um conto representava para a literatura, ou seja, o que de mais efémero se encontra na permanência. E, nesse circuito entre o mundo visível e o invisível, plasmava-se a transitoriedade das coisas mas também o que de mais constante possuíam graças à combinação de figuras que se diriam em tudo antagónicas (Nixon e Mao, Eldridge Cleaver e a Rainha de Inglaterra, etc). De modo crucial, sentia-se o gosto pós-moderno em apresentar uma teoria unificada da existência através do que era literalmente uma solução. Enquanto notáveis improvisadores, Tony Malaby, William Parker e Nasheet Waits – o trio Tamarindo – não são estranhos a tais conceções. E no seu terceiro disco – o segundo neste formato, já que em “Live”, uma gravação de 2010, eram acompanhados por Wadada Leo Smith – parecem vir sublinhar esse fundamental postulado: que nenhuma projeção da mente denota características definitivas. Ou, melhor, que a arte é a expressão final desse fluxo ininterrupto de êxtases e tragédias. Conseguem-no a partir dessa igualitária premissa: de que fazem já parte de um só corpo, de que o vínculo que os une é contínuo. Isto é, procedem de uma posição de abandono, de aceitação incondicional do outro, de um ponto praticamente exterior ao da criação tal como a entendemos. “Somos Agua” não é mais que a força que lhes sustenta tamanha convicção.

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