15 de novembro de 2014

La Lira D’Espéria II: Galicia – Danças, Cantigas & Cantos da Terra (Alia Vox, 2014)




Jordi Savall, Pedro Estevan


A Galiza, descreve-a Carlos Villalba Freire como um lugar eternamente suspenso entre o sonho e a realidade. Talvez por o galego, conforme sugere num cancioneiro dos anos 70, ansiar sempre “outra coisa”. Jordi Savall, apresentando este projeto para rabecas, arrabis e percussão, identifica-a como a expressão de uma “insólita forma de insularidade”, como “uma grande ilha, de qualidades muito arraigadas”, e também ele procura essa “outra coisa”. A começar pelo título, que, do Jardim das Hespérides a Orfeu, foi buscar à Grécia antiga. E ainda que comunique com um primeiro tomo gravado há 20 anos, o que pretende agora confirmar é um caráter de exceção. Ou seja, nada, aqui, dá mostras de participar da diáspora mediterrânica em que mergulhava o volume precedente, isto é, coisa nenhuma é declaradamente hispânica, apesar de se incluírem algumas das “Cantigas de Santa Maria”, de Afonso X, entre esta coleção de “cantos da terra, cantos de ciegos, cançãos d’embalar, danzas y bailes”. Mas até o que se pressupõe uma decantação de música galaico-portuguesa, trovadoresca, sefardita ou árabe surge como a rude manifestação de uma índole pré-céltica misteriosamente embrulhada em bruma. É natural. Afinal, Savall acaba de renunciar ao Prémio Nacional de Música espanhol. E, em carta aberta, coassinada por José Carreras ou “Pep” Guardiola, defendeu o direito dos catalães à autodeterminação. Por essas e por outras, no tricentésimo aniversário da Guerra da Sucessão Espanhola, inseriu ‘Catalunya en altre temps, ella sola's governava’ num programa a que chamou “Guerra e Paz”. Com Savall, o passado mantém-se absolutamente contemporâneo.

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