3 de janeiro de 2015

Verckys et l’Orchestre Vévé "Congolese Funk, Afrobeat & Psychedelic Rumba 1969-1978" (Analog Africa, 2014)



Viviam-se tempos eminentemente pragmáticos, em Kinshasa. Do sistema de partido único de Mobutu, por exemplo, decalcava-se a bronzeada blindagem da invulnerabilidade. Acerca de Verckys lê-se o seguinte em “Rumba on the River”: “Audaz e ambicioso, com uma ideia de si próprio que excluía a noção de fracasso, ninguém teve um impacto assim tão grande na indústria musical do período.” Gary Stewart, autor dessa enciclopédia da música popular dos dois congos publicada em 2000, não faz por menos. No capítulo em que toma nota das movimentações que acompanharam a alvorada da década de 70, de uma arregimentação sem precedentes, o nome do saxofonista, compositor, chefe de orquestra, editor e produtor praticamente salta a cada página. Conta-se o seu estágio de seis anos na OK Jazz, de Franco, relata-se a sua emancipação, em abril de 1969, quando se estreia no emblemático Vis-à-Vis com a recém-fundada Orchestre Vévé, e identifica-se a sua mão por trás do êxito das orquestras Bella Bella, Empire Bakuba, Lipua Lipua, Kiam ou Zaïko Langa Langa. Em junho de 1972, sete dos dez discos mais vendidos no Zaire traziam a sua assinatura. Em 1974, logo após o combate entre Ali e Foreman, a revista “Likembe” fazia capa com uma fotografia que exalava suor: Verckys e James Brown atuando em conjunto. Curiosamente tamanha glória jamais se transferiu para a era do CD, ainda que, aqui, a Analog Africa nem colija sucessos, consagrando-se antes à reunião de raridades. O retrato é extravagante e essencial e aquilo que à primeira vista é ridículo parece inevitável à segunda, alegoria para toda a música que há no mundo.

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