13 de junho de 2015

Britten/Barber: Piano Concertos; Nocturnes (Decca, 2015)




Elizabeth Joy Roe (p), London Symphony Orchestra, Emil Tabakov (d)
De vestido claro, com apliques em brocado dourado, languidamente estendida de barriga para baixo sobre um piano de cauda, Elizabeth Joy Roe prende o longo cabelo escuro junto à nuca com a mão esquerda enquanto se deixa evadir para fora de campo com o olhar. É uma foto, na contracapa deste CD, que possui inúmeras leituras. Por um lado, poderá querer dizer que a Decca tem nos seus quadros executivos com menos vergonha na cara do que os organizadores do Salão Automóvel de Xangai, de abril, que este ano dispensaram dos seus corredores aquelas – o quê? Hospedeiras? – que se destinam a disfarçar a vulgaridade do que aí se propõe tapando-se com sorrisos e pouco mais. Por outro, é perfeitamente possível que a editora venha, assim, através de uma alusão direta a um estereótipo sexista das artes gráficas, transferir para o domínio do fetiche aquilo que de mais contraditório deteta a sua própria pianista nestas obras: “Os caprichos e as virtudes da espécie humana – o seu humor e as suas tragédias, as suas lutas e aspirações, a banalidade e a reverência”, conforme explicita em perspicazes, curiosas e especulativas notas de apresentação (em que só falta sugerir uma coisa: que o “Concerto para Piano, Op. 38”, de Barber, podia muito bem ter sido o concerto para piano que Britten tivesse vindo a compor, em 1962, caso tivesse ficado nos EUA em vez de ter tornado a Inglaterra, em 1942; pelo menos está cheio do canto de pássaros que Britten jamais ouviu). Porque tudo, aqui, surge afetado pela psicologia e pelo simbolismo. Incluindo um programa a que, para voltar ao tema, se alude nesta capa em que uma (não tão pequena) sereia representa a virtual comunicação transatlântica patente no disco.

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