19 de setembro de 2015

Amara Touré “1973-1980” (Analog Africa, 2015)



Atribuída a Amara Touré, surge num livro do etnomusicólogo Wolfgang Bender esta interrogação: “Para nós, africanos, será a música latino-americana um conceito assim tão estranho? Creio que não. Atente-se ao samba brasileiro, à percussão, aos ritmos da bateria. Sinto-o como parte da nossa cultura.” Podia estar a referir-se ao “fluxo e refluxo” entre o golfo do Benim e a baía de Todos-os-Santos, mas o seu campo de ação foi mais amplo. Nasceu na Guiné, cresceu no Senegal e, no fecho da década de 50, como timbaleiro, ingressou na Star Band de Dakar com o gambiano Laba Sosseh, o nigeriano Dexter Johnson e o cabo-verdiano José Ramos. Como Amadou Balaké em relação aos Ambassadeurs, o seu conhecimento do vernáculo rítmico afro-cubano facilitou-lhe a promoção a vocalista, ainda que só foneticamente dominasse o espanhol. Nas lascas saídas da Star Band, acompanhou Sosseh na Super International e Johnson na Super Star. Em “Afrolatin: Via Dakar” (Syllart, 2011) estão três temas por si cantados, provenientes de sessões em Iaundé, nos Camarões, quando tocava no Ensemble Black & White, e fica claro que ninguém, nem mesmo Laye Mboup e Thione Seck na Orchestra Baobab, se adaptou como ele à languidez desse repertório. Solta a voz e imaginam-se pares tão agarrados, e de movimentos tão lentos, que se diria estarem a dançar num campo minado. Esta antologia, que se reputa integral, revela mais três canções desse período, além do LP que, em 1980, gravou em Libreville com o conjunto Massako, em cujas fileiras havia sido admitido. Desapareceu sem deixar rasto em meados de 90. Permanece inesquecível.

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