5 de setembro de 2015

Pärt: Musica Selecta – A Sequence by Manfred Eicher (ECM, 2015)



Há Pärt de todas as formas e feitios: num CD da Auvidis, por exemplo, “Psalom” possui uma interpretação definitiva às mãos do quarteto Arditti; já a melhor versão de “Fratres” fez o Kronos para a Elektra; do mesmo modo, será difícil de superar a leitura que Neeme Järvi propôs das primeiras sinfonias, na BIS, ou da seminal “Collage sur B-A-C-H”, na Chandos; outro tanto se dirá das gravações de Paul Hillier da obra coral do estónio na Harmonia Mundi. Mas a verdade é que a evocação desta música serve para despertar os aromas do primeiro amor. E – porque a vai lançando desde 1984, pelo menos nesta ortodoxa variação que se diria destinada a servir de música sacra para os super-ricos – esse perfume só na ECM se encontra. Por isso, e fundamentalmente porque Arvo Pärt faz 80 anos na próxima sexta-feira, Manfred Eicher visitou os arquivos e puxou o lustro a cerca de dúzia e meia de matrizes (apenas por questões de espaço, presume-se, excluindo da sua seleção registos tão emblemáticos como “Tabula Rasa”, “Passio”, “Miserere” ou “Te Deum”). Tem, então, precedência no retrato a (relativa) brevidade, o que nem será a mais feliz das ideias. Dir-se-ia, até, que o diretor da chancela alemã procurou criar a banda-sonora para um documentário que ficou por fazer – e Pärt presta-se a tanto, ou não tivesse o compositor espalhado peças suas por filmes de Terrence Malick, Paul Thomas Anderson, Werner Herzog e Gus Van Sant. Quem aprecie as crises espirituais desta simpática e solitária figura que dá mostras de ir avançando pelo mundo de bíblia sinodal russa debaixo do braço, ou quem se emocione com Villaret a declamar “A Procissão”, encontrará em “Stabat Mater” ou “Festina Lente” razão para se arrepiar. [À venda dia 11]

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