19 de setembro de 2015

Universal Indians w/ Joe McPhee “Skullduggery” (Clean Feed, 2015)



McPhee inventaria humores de modo expletivo e cospe sílabas como quem se quer ver livre de uma mordaça. A ideia que fica é que não consegue expelir o ar dos seus pulmões e, quando se dá por ele, o tom do seu trompete de bolso não é mais que um silvo. Acompanha-o o contrabaixo de Jon Rune Strom, rugoso e cheio de nós, um contorcionista feito de madeira e tripa a que se cola o som do saxofone de John Dikeman, tão intenso que, se fosse possível apanhá-lo, numa fotografia sairia sempre tremido. Entretanto ganha-se consciência das ruminações de Tollef Ostvang à bateria que, passe a redundância, lembra um batedor a abrir caminho a uma patrulha. Vão-se contando os minutos pelos dedos de uma mão e dá-se um daqueles uníssonos que se associam mais ao culminar de um concerto do que propriamente ao seu início (“Skullduggery” foi gravado ao vivo em junho de 2014). Também McPhee, aos 75, depende tão pouco de rotinas que se diria estar agora a começar a sua carreira. Noutro paradoxo, mais se enche com a música dos outros não obstante ser apenas a sua que parece tocar. É um romântico que, em 1981, por ocasião do lançamento de “Topology”, formulava as coisas desta maneira: “Os músicos encerram, em si mesmos, todas as formas concebíveis, abstratas e multidimensionais”. O escrúpulo com que procede com estes Universal Indians terá algo a ver com isso. Ou, até, com uma qualidade que disse já apreciar: a do som que se “torna praticamente tátil”. A meio do tema titular evoca ‘Knox’, um fantasma de “Tenor” (1977), e é tudo tão acrecivo que de repente não se imagina uma história do jazz antes de si.

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