11 de maio de 2019

Bill Evans “Evans in England” (Resonance, 2019)

Sempre que uma destas pérolas dá à costa, logo vem à memória “Why Didn’t They Ask Evans?”, de Agatha Christie. Pois, a verdade é que até se poderia dar o caso – como uma e outra vez aconteceu – de Bill Evans dizer que sim: desse modo, a legião de engenheiros de som que tirava o curso por sub-repção nos seus concertos, noite após noite, poderia, enfim, destapar os microfones e gravadores que mantinha ocultos sob as toalhas de mesa dos clubes de jazz. Um dos mais famosos reincidentes no delito era um francês a que chamavam “Jo”, um fanático impossível de reabilitar que durante onze anos acompanhou as digressões de Evans pela Europa com material de espionagem atrás – com um Beyerdynamic junto aos pés e um Uher preso entre os joelhos, foi ele que gravou este(s) concerto(s), no Ronnie Scott’s, em Londres, em dezembro de 1969, a tremer de medo e a reprimir a vontade de genufletir, calcula-se.

E não era para menos: um ano depois da tournée com Eddie Gómez e Jack DeJohnette (ouvir, na mesma Resonance, “Some Other Time: The Lost Session from the Black Forest” e “Another Time: The Hilversum Concert”, captados em junho de 1968), Evans apresentava novo trio, com novo baterista, Marty Morell, cujo único crédito digno de nota, embora com direito a errata (no LP lê-se Morrell), advinha da sua participação em “The Sorcerer”, de Gábor Szabó. Acima de tudo, porque, a tocarem juntos há um ano (e, já agora, ainda nesta editora, pode confirmar-se que, aqui, não soam de todo ao que soavam em outubro de 1968, quando ficou registado “Live at Art D'Lugoff's Top of the Gate”), criavam-se, por fim, e novamente, as condições para que Evans tivesse à sua volta gente com que pudesse “verdadeiramente conversar, interagir, dançar, cantar, produzir este tipo de energia cerebral mas muito expressiva”, conforme relata Gómez em notas de apresentação, e como não tinha desde a dissolução do trio com LaFaro e Motian. De facto, há poucos documentos, destes, ao vivo, em que o pianista se entregue incondicionalmente ao momento e desligue o piloto automático, com ponto alto em ‘Sugar Plum’, original cuja presente fixação antecipa a da cronologia oficial (havia sido estreado em 1971, em “The Bill Evans Album”). Histórico, nem que seja por isso.

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