25 de maio de 2019

Pettersson: Violin Concerto No. 2 (BIS, 2019)

No início dos anos 50, quando estreou o seu “Concerto para Violino e Quarteto de Cordas”, Allan Pettersson foi caracterizado como um “modernista controverso”, um “expressionista sem igual”, um daqueles compositores de obras tecnicamente tão complexas que praticamente obrigavam os seus intérpretes a andar de canivete suíço no bolso. Volvido um quarto de século, quando escreveu este “Concerto para Violino Nº 2”, dava-se por si no asilo dos sinfonistas escandinavos, como se o pós-modernismo não tivesse sido mais que uma lomba que apanhou no caminho – em 1977, de facto, compor para orquestra em regime sinfónico seria tão anacrónico quanto, no cinema, realizar um western passado no século XIX quando o género havia já ingressado na era espacial, com “A Guerra das Estrelas”. Mas, se alguma coisa, a produção de Pettersson veio aos poucos provar que o minimalismo não era a única alternativa ao maximalismo, que o contrário do serialismo, por exemplo, não teria forçosamente de ser o neoclassicismo – aliás, conforme explicava Michael Nyman em “Experimental Music”, e em extrapolação para termos que só mais tarde seriam adotados, era muito provável que Nova Simplicidade e Nova Complexidade se alimentassem uma da outra. 

Não obstante, de acordo com um confidente, Pettersson tentava descrever a “luta do homem comum contra Brejnev” – em plena Guerra Fria, era como se solista e orquestra viessem de cada uma das extremidades do eixo da Terra. Nessa perspetiva, então, explica-se uma aproximação concetual – e, aqui e ali, mais do que isso – ao que fizeram Bartók ou Hindemith, que dramatizaram como poucos o desequilíbrio inerente ao conflito entre estas duas forças. Nas suas próprias palavras: “O ser humano procura escapar a uma realidade em que aquilo que representa é permanentemente apagado por sistemas ideológicos que se manifestam através do homicídio e do fratricídio. É nessa paisagem noturna que se escuta uma canção ao violino”, uma espécie de hino para a emancipação do indivíduo. Trata-se de um tema do ciclo “Canções do Pé-Descalço”, dos anos 40, cujos constituintes são neste concerto aplicados em método recursivo – uma bomba que detonou no caminho rumo ao asilo dos sinfonistas escandinavos. Chamava-se esperança.

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