Já
David Bowie avisava: “There's a brand new dance/ But I don't know its name/ That
people from bad homes/ Do again and again/ It's big and it's bland/ Full of
tension and fear/ They do it over there/ But we don't do it here”. Estávamos em
1980, a canção chamava-se ‘Fashion’, e, nesse mesmo ano, com a mesmíssima
designação, Chris Lane e John MacGillivray fundaram uma editora que se
dedicaria a desmascarar o quanto havia de serôdio nos seus versos. “Em vez de
imitar tudo o que vinha da Jamaica tentámos incorporar nesta música a
experiência dos miúdos de cor britânicos – as histórias que nos contavam
pareciam únicas e intransmissíveis, eram relatadas nos seus próprios termos, no
seu próprio tempo, mas não deixavam de ser histórias londrinas”, dizem, agora, em
notas de apresentação. Ou seja, contrariamente ao que faziam Island, Trojan,
Pama, Frontline ou Greensleeves, a Fashion não dependeria de contratações
estrangeiras para fazer soar os alarmes da classe média no Reino Unido: os
expoentes do seu catálogo – como General Levy, Papa Face, Smiley Culture, Asher
Senator, Laurel & Hardy – eram ingleses de primeira geração.
Aliás, tendo
em conta esta lista de nomes, na compilação dá-se pela falta de Smiley Culture –
logo dele, cuja história de vida dá mostras de envolver alguma verdade
importante sobre este tipo de questões (veio a falecer após uma rusga policial
de que resultaram ferimentos graves, em 2011, 27 anos depois da Fashion ter lançado
o seu ‘Police Officer’). Já a ausência de nomes consagrados que chegavam da
Jamaica e que a editora viria a gravar – Carlton Manning, Alton Ellis, Al
Campbell, Horace Andy, Johnnie Clarke, Junior Delgado – se explicará à luz dessa
narrativa nativista. Principalmente noutro ponto que a Soul Jazz pretende
transmitir: que, graças aos seus singles
de ragga e dancehall, a Fashion se provou determinante na cena musical
britânica por apanhar boleia do jungle
em movimento ascendente – ilustram-no na perfeição os temas de General Levy,
Cutty Ranks, Poison Chang, Papa Face e Top Cat aqui incluídos. Mas esse é o fim
desta história – o início deu-se com ‘Let’s Dub it Up’, de Dee Sharp, em 1980,
e com o embalo daquela onda de mel do lovers
rock (também com Carlton Lewis e Keith Douglas) que não mais parou de se espraiar.
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