18 de maio de 2019

Joshua Redman Quartet “Come What May” (Nonesuch, 2019)

Por volta de 1993, quando Joshua Redman apareceu, a questão da hereditariedade colocava-se de outra maneira, como se o jazz fosse um conjunto de obrigações que se transmite, em vez de uma liberdade pessoal que se reclama. Ainda assim, o saxofonista recusava-se a alimentar aquela crónica mais etiológica da coisa, que apontava para a inevitabilidade de o filho vir a lidar não só com os direitos mas também com os encargos artísticos deixados pelo pai – bem, nessa perspetiva, enquanto objeto psicanalítico, seria mais provável transmutar-se gradativamente em Édipo! Seja como for, não se vislumbra uma estreia tão desprovida de neuroses quanto a sua – e ao segundo disco, “Wish”, a tocar ao lado de Pat Metheny, Charlie Haden e Billy Higgins, parecia nomear-se acima de tudo herdeiro de Ornette. Aliás, na altura, por mais que chamasse a atenção de todos quanto o escutavam para o que aquela gente que tinha sensivelmente a mesma idade que a sua fazia (e James Carter logo salta à memória), a verdade é que Joshua dava mostras de pertencer a uma geração anterior, até, à do próprio pai – como se tivesse mais que ver com quem deu os últimos retoques no jazz enquanto bem artístico, como Don Redman, que efetivamente o precedia em enciclopédias. 

Traía-o o repertório: no seu primeiro álbum, tocava ‘I Got You (I Feel Good)’, de James Brown, bem como ‘Salt Peanuts’ (Dizzy Gillespie); em ‘Wish’, fazia uma versão de ‘Tears in Heaven’, de Eric Clapton; em “Timeless Tales (For Changing Times)”, incluía em alinhamento temas de Joni Mitchell, Bob Dylan, Stevie Wonder ou dos Beatles. Era como se estivesse a acusar precocemente a passagem do tempo. Ato contínuo, em 2001 lança “Passage of Time”. E, agora, com 50 anos acabados de fazer em fevereiro, é aos instrumentistas desse transitório CD que regressa: aos flexibilíssimos mas exatos Aaron Goldberg (piano), Reuben Rogers (contrabaixo) e Gregory Hutchinson (bateria). Não se trata do seu único quarteto no ativo, claro: com Ron Miles (cornetim), Scott Colley (contrabaixo) e Brian Blade (bateria), editou no ano passado “Still Dreaming”, onde põe finalmente em ordem o legado de Dewey Redman. Aqui, transferindo a espontaneidade e a versatilidade novamente do modo de compor para o de interpretar, dir-se-ia honrar, antes, figuras avunculares, como foi sempre Sonny Rollins e como, de repente, aparenta ser Charles Lloyd. Cá está a mesma técnica associativa e disposição oracular, o mesmo desejo de pôr um pé na eternidade, aconteça o que acontecer.

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