Integrando três formações
essenciais para a modernidade na música popular brasileira da década de 70 – no
trio Terço, na Banda Atômica de Jorge Mautner e na Outra Banda da Terra de
Caetano Veloso – é natural que Vinicius Cantuária goze de uma biografia
artística de subentendidos. E dado o magnetismo dos astros que orbitou, nem
sempre tornando explícitas as suas contribuições, essa condição periférica
ocultou outra: a origem em Manaus, metrópole amazónica edificada sobre lama,
borracha e igaçabas, sede de uma distinta sensibilidade que Cantuária credita à
cultura indígena. E, no entanto, relembrando a sua discografia nativa (o
homónimo de 1982, “Gávea de Manhã”, de 1983, “Sutis Diferenças”, de 1984, “Siga-me”,
de 1985, ou “Nu Brasil”, de 1986), nota-se uma progressiva distanciação desses
característicos traços, numa ação redundante, de alguma futilidade, e da qual,
não obstante interessantes parcerias e notáveis participações, fica a memória
de um desvanecimento autoral e o sabor das oportunidades perdidas. De facto,
apenas na sua remota estreia a solo – elegante, sóbria e anacrónica – se encontram
aquelas promessas de que pareciam cheios os seus discos mais recentes. Mas
esses, a partir de “Sol na Cara”, de 1996, dependem do retomar da perspetiva
previamente enunciada: sair do Brasil, para Nova Iorque, e tornar-se
objetivamente estrangeiro e, por definição, mais brasileiro – como uma inversão
do operado pelo seu cúmplice Arto Lindsay. “Índio de Apartamento” é, talvez, da
dezena de álbuns lançados fora do seu país nos últimos 15 anos, aquele que
melhor dá consequência ao inaugural de há 30, mas numa atmosfera rarefeita, de
um inédito despojamento, como num espaço (o titular) em que só há já ar para
um. Por isso, revelam-se ainda mais cruciais as elementares contribuições de
Sakamoto, Frisell, Laginha ou Norah Jones.
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