19 de janeiro de 2013

Vinicius Cantuária “Índio de Apartamento” (Naïve, 2012)



Integrando três formações essenciais para a modernidade na música popular brasileira da década de 70 – no trio Terço, na Banda Atômica de Jorge Mautner e na Outra Banda da Terra de Caetano Veloso – é natural que Vinicius Cantuária goze de uma biografia artística de subentendidos. E dado o magnetismo dos astros que orbitou, nem sempre tornando explícitas as suas contribuições, essa condição periférica ocultou outra: a origem em Manaus, metrópole amazónica edificada sobre lama, borracha e igaçabas, sede de uma distinta sensibilidade que Cantuária credita à cultura indígena. E, no entanto, relembrando a sua discografia nativa (o homónimo de 1982, “Gávea de Manhã”, de 1983, “Sutis Diferenças”, de 1984, “Siga-me”, de 1985, ou “Nu Brasil”, de 1986), nota-se uma progressiva distanciação desses característicos traços, numa ação redundante, de alguma futilidade, e da qual, não obstante interessantes parcerias e notáveis participações, fica a memória de um desvanecimento autoral e o sabor das oportunidades perdidas. De facto, apenas na sua remota estreia a solo – elegante, sóbria e anacrónica – se encontram aquelas promessas de que pareciam cheios os seus discos mais recentes. Mas esses, a partir de “Sol na Cara”, de 1996, dependem do retomar da perspetiva previamente enunciada: sair do Brasil, para Nova Iorque, e tornar-se objetivamente estrangeiro e, por definição, mais brasileiro – como uma inversão do operado pelo seu cúmplice Arto Lindsay. “Índio de Apartamento” é, talvez, da dezena de álbuns lançados fora do seu país nos últimos 15 anos, aquele que melhor dá consequência ao inaugural de há 30, mas numa atmosfera rarefeita, de um inédito despojamento, como num espaço (o titular) em que só há já ar para um. Por isso, revelam-se ainda mais cruciais as elementares contribuições de Sakamoto, Frisell, Laginha ou Norah Jones.

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