7 de junho de 2014

El Greco: El Viaje Musical de Doménikos Theotokópoulos (CDM, 2014)




Capella de Ministrers, Carles Magraner (d) 


Humanista e tangível variação, esta, acerca da continuamente contestada posteridade de El Greco, distante da elevação mística através da qual o Ensemble Plus Ultra organizou um “From Spain to Eternity” acabado de lançar pela Archiv e só na aparência devedora da tautologia de Kazantzakis (em tempos, Clarice Lispector verteu “Testamento a El Greco” para o português). De facto, igualmente por aqui, em quatro temas quase tão antigos quanto o Mediterrâneo, se encontra ímpeto inicial num movediço catalisador bizantino para, a pretexto de se partir em direção ao pintor renascentista, logo se propor uma biografia paralela de contornos odisseicos. No caso, naturalmente, a do próprio agrupamento dirigido por Magraner, há cerca de 25 anos capaz de disputar a consistência a formações homólogas como Hespèrion XXI, Sequentia, Micrologus ou La Reverdie, que pelos seus vastos arquivos, soltas por gravações como “La Cité des Dames”, “Canticum Nativitatis Domini”, “La Spagna” ou “Nunca Fue Pena Mayor”, descobriu já as páginas necessárias à reconstituição do itinerário daquele que em Creta, em 1541, se batizou Doménikos Theotokópoulos, em Roma, por volta de 1570, se apodou de Il Greco, e, em Toledo, em 1614, se levou a enterrar com o artigo definido hispanizado. O momento é oportuno. Também o Prado, em Madrid, se prepara para inaugurar uma exposição consagrada a este quarto centenário da sua morte. Mas neste disco, é o trânsito entre música sacra e secular (da liturgia de Victoria ou Lasso à dança cortesã veneziana ou à canção sefardita) a sublinhar uma sua tão inquestionável quão invejável virtude: a de mediador para a modernidade.

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