Capella de Ministrers, Carles Magraner (d)
Humanista e tangível variação,
esta, acerca da continuamente contestada posteridade de El Greco, distante da
elevação mística através da qual o Ensemble Plus Ultra organizou um “From Spain
to Eternity” acabado de lançar pela Archiv e só na aparência devedora da
tautologia de Kazantzakis (em tempos, Clarice Lispector verteu “Testamento a El
Greco” para o português). De facto, igualmente por aqui, em quatro temas quase
tão antigos quanto o Mediterrâneo, se encontra ímpeto inicial num movediço
catalisador bizantino para, a pretexto de se partir em direção ao pintor
renascentista, logo se propor uma biografia paralela de contornos odisseicos. No
caso, naturalmente, a do próprio agrupamento dirigido por Magraner, há cerca de
25 anos capaz de disputar a consistência a formações homólogas como Hespèrion
XXI, Sequentia, Micrologus ou La Reverdie, que pelos seus vastos arquivos,
soltas por gravações como “La Cité des Dames”, “Canticum Nativitatis Domini”, “La Spagna” ou “Nunca Fue Pena Mayor”, descobriu já as
páginas necessárias à reconstituição do itinerário daquele que em Creta, em
1541, se batizou Doménikos Theotokópoulos, em Roma, por volta de 1570, se
apodou de Il Greco, e, em Toledo, em 1614, se levou a enterrar com o artigo
definido hispanizado. O momento é oportuno. Também o Prado, em Madrid, se
prepara para inaugurar uma exposição consagrada a este quarto centenário da sua
morte. Mas neste disco, é o trânsito entre
música sacra e secular (da liturgia de Victoria ou Lasso à dança cortesã
veneziana ou à canção sefardita) a sublinhar uma sua tão inquestionável quão
invejável virtude: a de mediador para a modernidade.
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