Havia algo de irredutível em Max Gordon. E tinha olho para o
talento. Alguns músicos chegavam ao seu clube tão mal preparados quanto um tenista
que atingisse o court principal de um grande torneio tendo ensaiado mais os
tiques do que o serviço; esses, raramente voltavam. Num livro de memórias, obviamente
intitulado “Live at the Village Vanguard”, Max, ao jeito de uma mãe que à
conversa chama um filho independente, fala do estabelecimento de modo
introspetivo: “Fui eu que o dei à luz, que lhe incuti as minhas ideias, as
minhas esperanças e os meus sonhos. É o meu bebé, mas agora tem vida própria, e
é melhor que eu nunca me esqueça disso.” Entretanto, claro, para músicos
profissionais, clubes de jazz como o Village Vanguard (etapa incontornável na
panteologia do género graças a Sonny Rollins, Bill Evans ou John Coltrane)
deixaram de ser como pão para a boca, embora se mantenham elementos
indispensáveis na crónica urbana do nosso tempo. Nessa perspetiva, esta
gravação possui duas leituras: a primeira, francamente irónica, diz respeito à
estreia de Ribot, guitarrista com 60 anos feitos na semana passada, enquanto
cabeça de cartaz num espaço ainda encarado como fator de mercado; a segunda,
genuinamente capaz de mover à compaixão, o regresso de Henry Grimes, contrabaixista
neste trio em que Chad Taylor é baterista, a um palco que não pisava desde
1966, altura em que aí atuou – e gravou – com Albert Ayler. A poesia do gesto –
estar em simultâneo no passado e no presente através do mais oracular em Ayler,
Coltrane ou, por intermédio de um standard,
Louis Armstrong – não iludiu os intervenientes. Talvez por isso tenham tocado o
‘Ol’ Man River’.
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