É também um tropismo no jazz, este que proclama advir do
invisível tudo aquilo que se vê. Trata-se de uma inferência com raízes na
“Epístola aos Hebreus” que, por hábito, se encara como uma profissão de fé, e,
no inglês (conforme o álbum de Don Pullen de 1983), se enuncia tradicionalmente
de acordo com o canónico “Evidence of Things Unseen”. Eric Revis será algo helénico
nas suas leituras e com uma astuta reformulação da frase dá antes ênfase a uma
visão mais unificada do mundo – no comunicado da Clean Feed, logo após a
declaração de que esta banda tem “muito respeito pela tradição e mais ainda
pela tradição de fazer andar as coisas para a frente”, encontram-se referências
hagiográficas ao Ornette de 1968 e ao Dave Holland de “Conference of the
Birds”. Ou seja, aqueles que melhor conhecem o percurso do contrabaixista
poderão deduzir que deu uma vez mais soltura ao historiógrafo que há em si –
relembre-se o seu papel em “Footsteps of Our Fathers”, de Branford Marsalis. Mas não é de todo esse o caso. E
a verdade – talvez por poucos acreditarem na possibilidade de vir novamente o
jazz a ter impacto na maneira de agir e pensar de cada um – é que não é suposto
tocar-se hoje com tanta esperança, imprudência e destemidez combinadas. Há aqui
uma peça de Sun Ra de meados dos anos 60 e outra de Sunny Murray da década
seguinte mas nem procedendo consoante impulsos tão coreografados se ofuscam os
seus intérpretes. Além de composições originais, Eric Revis, Chad Taylor, Bill McHenry e Darius Jones, com Marsalis a participar num par de temas, propõem pensamentos
originais, e maior elogio à sua capacidade de invenção não se vislumbra.
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