17 de maio de 2014

Dvorák: Cello Concerto (Decca, 2014)




Alisa Weilerstein (vlc), Anna Polonsky (p), Czech Philharmonic Orchestra, Jirí Belohlávek (d)
 


Em maio de 1893, no “Herald”, de Nova Iorque, Dvorák (à data, diretor do Conservatório Nacional) alvitrou num artigo: “O futuro musical deste país terá de se basear no que comummente se apelida por melodia negroide.” E, de facto, antes de tornar a casa, compôs uma sinfonia, um quarteto ou este “Concerto para Violoncelo em Si menor” em que, à semelhança do que havia ensaiado com canções ciganas nessoutro rácico desiderato desenvolvido na ignorância da genética, incorporou elementos exteriores ao que julgava ser a tradição europeia. Não se compreende, por isso, pois encontrava-a à soleira da porta, que Alisa Weilerstein, cuja abrangência cultural foi no mês passado distinguida nos prémios da “BBC Music Magazine”, tenha ido procurar autenticidade a Praga. A não ser que mate, assim, a sua editora os dois idiomáticos coelhos de uma cajadada só: grava conteúdos para uma futura edição (“Complete Symphonies & Concertos”, do checo, sob a batuta de Belohlávek) e chapa a capa para a presente, soltando a norte-americana, na pele de Capuchinho Vermelho, pelobosque da Villa Rusalka, simbólico mausoléu do compositor. A ingenuidade e lealdade da personagem do conto da carochinha não se aplicam à violoncelista, já que, a espaços, Weilerstein, algo indiferente ao destino da peça (compare-se com o que há um ano fez Isserlis), está praticamente a desertar das convenções orquestrais. Tem o ouvinte de conciliar duas atitudes incompatíveis. Em complemento, acompanhados por Anna Polonsky, os famosos “Rondó em Sol menor” ou “Dança Eslava Nº. 8”, aqui tão escusados quanto, num restaurante, aperitivos servidos após o prato principal.

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