Alisa Weilerstein (vlc), Anna Polonsky (p), Czech
Philharmonic Orchestra, Jirí Belohlávek (d)
Em maio de 1893, no “Herald”, de Nova Iorque, Dvorák (à data,
diretor do Conservatório Nacional) alvitrou num artigo: “O futuro musical deste país terá de se basear no que comummente se apelida por melodia negroide.” E,
de facto, antes de tornar a casa, compôs uma sinfonia, um quarteto ou este “Concerto para Violoncelo em Si menor” em que, à semelhança do que havia ensaiado com
canções ciganas nessoutro rácico desiderato desenvolvido na ignorância da
genética, incorporou elementos exteriores ao que julgava ser a tradição
europeia. Não se compreende, por isso, pois encontrava-a à soleira da porta,
que Alisa Weilerstein, cuja abrangência cultural foi no mês passado distinguida
nos prémios da “BBC Music Magazine”, tenha ido procurar autenticidade a Praga. A
não ser que mate, assim, a sua editora os dois idiomáticos coelhos de uma
cajadada só: grava conteúdos para uma futura edição (“Complete Symphonies & Concertos”, do checo, sob a batuta de Belohlávek) e chapa a capa para a
presente, soltando a norte-americana, na pele de Capuchinho Vermelho, pelobosque da Villa Rusalka, simbólico mausoléu do compositor. A ingenuidade e
lealdade da personagem do conto da carochinha não se aplicam à violoncelista, já
que, a espaços, Weilerstein, algo indiferente ao destino da peça (compare-se com
o que há um ano fez Isserlis), está praticamente a desertar das convenções orquestrais.
Tem o ouvinte de conciliar duas atitudes incompatíveis. Em complemento,
acompanhados por Anna Polonsky, os famosos “Rondó em Sol menor” ou “Dança
Eslava Nº. 8”, aqui tão escusados quanto, num restaurante, aperitivos servidos após
o prato principal.
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