24 de maio de 2014

Billy Hart Quartet “One is the Other” (ECM, 2014)



Particularmente ecuménico, o título deste novo álbum do quarteto de Billy Hart, Mark Turner, Ethan Iverson e Ben Street na ECM traz à memória um livro de Élisabeth Badinter de meados dos anos 80: “L'Un est l’Autre”, em que, a pretexto de se discutir igualdade de género, se concluía que, enquanto espécie, trabalhamos excessivamente no sentido de impor as nossas dissemelhanças. A referência vem de um tempo em que também no jazz se detetavam resíduos antropológicos, mas é evidente que Hart o precede – ele, que é daqueles que cosem umas às outras as folhas da história do jazz, possuindo estágios fundamentais junto a Pharoah Sanders, Herbie Hancock, Stan Getz ou Charles Lloyd (aliás, retire-se da prateleira, ao acaso, uma enciclopédia, e dá-se pelo seu nome numas 100 páginas). Por isso, mais importante se torna esta designação que contraria o mito de dominação cultural que se associa às formações com líder. O reverso da medalha, já se sabe, é cair-se na mais paradoxal mesmidade, coisa que se pressente nesta sessão e que a editora agrava quando, na capa, recorre a uma fotografia de Jean-Guy Lathuilière tão aproximada às de Jan Kricke ou Gérald Minkoff empregues noutros lançamentos do seu catálogo ou por reincidir no estúdio de gravação de grande número dos seus discos de jazz, o que leva, por exemplo, o saxofone de Turner a assemelhar-se aos de Lovano, Potter ou Lloyd antes ainda de se parecer consigo mesmo. E, não chegando a ser insípida, inexpressiva ou pouco inventiva, a verdade é que a ação dos músicos – em menos originais do que o esperado – não sugere propriamente o inverso. Para que serve, assim, tudo isto que os une?

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