Há um ano, em entrevista ao Expresso, dizia Bassekou
Kouyaté: “Quando nos calarmos é sinal de que o mundo já não está capaz de se
curar.” Falava acerca da instabilidade constitucional no seu país e fazia
referência à ortodoxa interpretação da jurisprudência islâmica que alastrava
pelo norte do Mali, e a pretexto da qual, sob o comando do Ansar Dine, se pronunciou
uma interdição contra a música. Proficientes no inglês que desejem informar-se
sobre o assunto poderão consultar o livro “Music, Culture & Conflict in Mali”, de Andy Morgan; já frequentadores de festivais de cinema deverão aguardar
dois documentários consagrados ao tema: “They Will Have To Kill Us First: Malian Music in Exile”, de Johanna Schwartz, e “Return to Timbuktu”, de Michael
Meredith. Enquanto isso, eis nova oblação de Damon Albarn, o mais visível dos
ideólogos das iniciativas “Africa Express”, em que, não obstante muito se
assinalar de casual, não se verifica a insipidez que, de “Mali Music” (2002) a
“Kinshasa One Two” (2011), normalmente acompanha as hifenizadas colaborações
que em solo africano patrocina. “Maison des Jeunes”, resultante de uma semana de gravações em Bamako, é tão caprichoso e inconstante quanto seria de esperar,
e divide-se fundamentalmente em dois campos: o dos malianos que fazem a música
que imaginam ouvir-se no resto do mundo e o dos britânicos que produzem aquela
que creem ser necessária à África contemporânea. Naturalmente, em disco, os
únicos momentos de transcendência chegam pela mão dos que ignoram qualquer um dos
pontos de vista: Brian Eno (com Yacouba Sissoko e Tiemoko Sogodogo), Bijou,
Kokanko Sata e Kankou Kouyaté.
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