10 de maio de 2014

“Africa Express Presents: Maison Des Jeunes” (Transgressive, 2014)



Há um ano, em entrevista ao Expresso, dizia Bassekou Kouyaté: “Quando nos calarmos é sinal de que o mundo já não está capaz de se curar.” Falava acerca da instabilidade constitucional no seu país e fazia referência à ortodoxa interpretação da jurisprudência islâmica que alastrava pelo norte do Mali, e a pretexto da qual, sob o comando do Ansar Dine, se pronunciou uma interdição contra a música. Proficientes no inglês que desejem informar-se sobre o assunto poderão consultar o livro “Music, Culture & Conflict in Mali”, de Andy Morgan; já frequentadores de festivais de cinema deverão aguardar dois documentários consagrados ao tema: “They Will Have To Kill Us First: Malian Music in Exile”, de Johanna Schwartz, e “Return to Timbuktu”, de Michael Meredith. Enquanto isso, eis nova oblação de Damon Albarn, o mais visível dos ideólogos das iniciativas “Africa Express”, em que, não obstante muito se assinalar de casual, não se verifica a insipidez que, de “Mali Music” (2002) a “Kinshasa One Two” (2011), normalmente acompanha as hifenizadas colaborações que em solo africano patrocina. “Maison des Jeunes”, resultante de uma semana de gravações em Bamako, é tão caprichoso e inconstante quanto seria de esperar, e divide-se fundamentalmente em dois campos: o dos malianos que fazem a música que imaginam ouvir-se no resto do mundo e o dos britânicos que produzem aquela que creem ser necessária à África contemporânea. Naturalmente, em disco, os únicos momentos de transcendência chegam pela mão dos que ignoram qualquer um dos pontos de vista: Brian Eno (com Yacouba Sissoko e Tiemoko Sogodogo), Bijou, Kokanko Sata e Kankou Kouyaté.

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