Takács Quartet,
Lawrence Power (vla)
No verão de 1890, na estância de Bad Ischl, o cirurgião Theodor Billroth deu com Johannes Brahms (1833-1897) mergulhado em “A Fundação do Império Germânico”, de von Sybel. Afetado pelo ar rarefeito dos Alpes afiançou-lhe que não planeava tornar a compor. Foi igualmente perentório com outro confidente seu, o maestro Eusebius Mandyczewski: “Há muito que me atormento com sinfonias e música de câmara de todo o tipo e coisa nenhuma resulta. Habituei-me a ver estas questões com clareza e, agora, parece-me, nada corre como previsto. Chegou a altura de mandriar!” Sabe-se que trabalhava então no seu segundo quinteto de cordas, iminente Op. 111, e que, contrariamente ao que dava a entender, seria breve a sua reforma. Mas uns meses houve em que esse quinteto conquistou reputação de último dos opúsculos. Percebe-se porquê: afinal, Brahms encontrava no seu protótipo, o “Quinteto de Cordas em Fá maior”, Op. 88, de 1882, as mais belas páginas que escreveu. Não estava enganado. Aliás, são ambas obras-primas do período e, em termos de colorido, na bravura ou fluidez, só o que faria Dvorák no seu terceiro quinteto se lhes assemelha. Possuem uma minuciosa acumulação de referências que reflete a dedicação de um colecionista e, também, uma intoxicada aparência que indicia boémias inclinações; manipulam-se aqui materiais de modo algo casual e, por vezes, manifesta-se uma inteligência quase alienante na maneira de os reunir; há atitudes erráticas e sorumbáticas; nota-se estima pela ideia de nobreza; há pudor e humor e apetência por gestos dramáticos. Dir-se-ia a descrição da personalidade de Sherlock Holmes, mas isso, tal como esta interpretação, é apenas elementar.
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