Leonidas Kavakos
(vl), Yuja Wang (p)
Dir-se-ia que de modo a evitar as contínuas comparações
entre a maneira de Yuja Wang tocar e de se vestir (a ilação a tirar será a de que
há falta de decoro numa e noutra), a Decca, nas fotos desta edição, representa
a pianista em contexto informal, surpreendida de casta blusa básica preta em
meia manga e trivial calça de ganga escura, como quem insinua que traduz tal
gesto o que de menos calculado possui a ação da pequinesa – trata-se, afinal, de
uma estreia em repertório camerístico. E, levando à letra tal consideração, a
ideia que fica é que Wang não compreendeu um truísmo indispensável: o de que,
nestas três sonatas, a escrita para piano de Brahms não é forçosamente
pianística. Por outro lado, mostra algo tão perturbante quão adequado: uma
absoluta espontaneidade na sua execução, como se as notas tivessem elas mesmas
encontrado no teclado os seus lugares. Talvez seja um processo de aprendizagem
que se deve à naturalidade de Leonidas Kavakos neste idioma, pois não há
memória de uma dupla tão confortável com tudo o que aqui se passa. Sim, para
recordar uma mão-cheia de títulos de referência nos últimos 30 anos, Perlman e
Ashkenazy foram igualmente económicos mas comparativamente mais opulentos; Dumay
e João Pires mais sigilosos; Mullova e Anderszewski mais dominantes; Mintz e Golan
mais românticos; e Mutter e Orkis revelaram-se mais marcados pela vida. Kavakos
e Wang, pelo contrário, ainda que apenas sugiram, mais que concretizem, todo o
potencial que há em Brahms, parecem afirmar que não vêm alterar o destino às
peças mas que esperam que sejam as peças a mudar os seus destinos pessoais. E,
de momento, isso basta.
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