21 de novembro de 2015

Cheikh Lô “Balbalou” (Chapter Two, 2015)



Radicada em Paris, a brasileira Flavia Coelho escrevia esta semana no Facebook que não ia “baixar a cabeça perante aqueles que querem acabar com a nossa liberdade e cultura”, mantendo em cartaz os concertos já anunciados. Neste disco, mais concretamente em ‘Degg Gui’, dá voz a qualquer coisa que tem a ver com isso quando, em português, canta que “Mentira traz medo e dor/ A verdade é bem mais simples nos conectados num canal de amor” e, de forma mais evangélica, “Abre seu coração hoje/ Ele te salvará amanhã”. Neste último verso Cheikh Lô identifica um famoso credo do marabuto Ibra Fall, discípulo de Amadou Bamba: dieuf dieul, isto é, cada um colhe aquilo que semeia. E é à luz desse mundo de retribuição que “Balbalou” pode ser entendido. Por isso é com espanto que, em ‘Doyal Naniou’, venha o senegalês (por filiação) falar de Thomas Sankara, Laurent-Désiré Kabila, Robert Guéï, William Tolbert, Moussa Traoré ou Nino Vieira enquanto “vítimas de assassinato”, não tanto enquanto revolucionários, para concluir que, em África, e demais paragens, “Já chega de golpes de Estado”. Na última estrofe da canção é Oumou Sangaré a reclamar “Paz em Casamansa/ Paz no Mali/ Baixem as armas”. Como é óbvio, precisamente o mesmo assunto de ‘Baisson les armes’, depois de Lô chamar a atenção para “Ucrânia, Rússia, Síria, Afeganistão, República Centro-Africana” e deduzir que palavras, leva-as o vento. Florbela Espanca dizia o mesmo das cantigas, e aqui são as de amor – incluindo uma versão de ‘Suzana Coulibaly’, de Sam Mangwana – que se revelam politicamente mais lúcidas. Felizmente estão em maioria.

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