14 de novembro de 2015

Dave Douglas Quintet “Brazen Heart” (Greenleaf, 2015)



Como dizia Johnny Mercer em ‘Too Marvelous for Words’, há coisas que são “tão, tão” que nem o dicionário Webster lhes encontra definição. A palavra brazen, felizmente, está lá: “Feito de bronze ou latão; derivado de metais de modo a transmitir impenetrabilidade; comportamento insolente ou descarado.” Basta passar umas horas na sua companhia para comprová-lo, realmente Dave Douglas tem muita lata, que não, apenas, aquela de que a sua trompete é feita. É também um cuidadoso concetualista cujas ações, aos olhos dos mais cínicos, poderão indiciar uma cedência ao calculismo. Quanto a isso, por ser de uma seriedade a toda a prova, chegam uns minutos a seu lado para que a ilusão se desfaça. Em 2005, por ocasião de um concerto em Lisboa no qual apresentaria “Mountain Passages”, consagrado à memória do seu falecido pai e escolhido para estrear esta sua Greenleaf, questionava o potencial oportunismo da edição. Respondi-lhe que sim, desde que ele me identificasse o conjunto específico de circunstâncias de mercado com o qual transigia ao lançar aquela insólita música para clarinete, tuba, violoncelo, trompete e bateria. Quando não se lembrou de nenhuma sugeri-lhe que oportunista seria não ter editado um disco absolutamente pessoal. Dez anos depois, blindado pela fortaleza de um quinteto mais convencional mas não menos superlativo (com Jon Irabagon, Matt Mitchell, Rudy Royston e Linda Oh), e desta feita dedicado ao seu irmão, vítima de cancro em junho último, é capaz de ter produzido o seu disco mais pessoal de sempre, todo ele engenho e instinto, fragilidade e força, cabeça e coração.

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