12 de março de 2016

Scott Clark 4tet “Bury My Heart” (Clean Feed, 2015)



O título deriva efetivamente de “Bury My Heart at Wounded Knee: An Indian History of the American West”, de Dee Brown, livro caro à contracultura dos anos 70. Para quem se lembra, a sua popularidade terá tido, até, influência na decisão do Movimento dos Indígenas Norte-Americanos em ocupar a cidade de Wounded Knee, em 1973. Com meia dúzia de anos, há um impressionante documentário de Stanley Nelson sobre o assunto, cause célèbre devidamente acompanhada no mundo da música: todos então gravados, pense-se em “Bury My Heart at Wounded Knee”, dos alemães Gita, em “Song for Wounded Knee”, de Richard Davis, e em “Witchi-Tai-To”, de Jan Garbarek. Claro que este último reclamava a influência de Jim Pepper, nome incontornável sempre que o assunto é a abertura do jazz à música dos povos nativos da América do Norte, história que vai do ‘Cherokee’, que Charlie Parker tanto tocava, até a “Indian Tapes”, de Andrea Centazzo, de “Symbols of Hopi”, de Jill McManus, a “Chinampas”, de Cecil Taylor, ou de “Sacred Common Ground”, de Don Pullen”, a “The Peach Orchard”, de William Parker. À lista adiciona-se agora um ilustre descendente. “Bury My Heart” traz à memória o genocídio ameríndio nos EUA, quando “pairava no ar um sentimento de ruína e destruição”, como escreveu Tocqueville. A evocação de uma gente de rosto contrito e gestos indecifráveis, de olhar fértil e aspeto de quem está há décadas sem dormir. A bateria de Scott Clark fala em código, como num pow-wow, mas permanece imune à nostalgia. Talvez porque, assim, não encontre tantos entraves ao que pretende recordar: um dos atos cruciais da infâmia.

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