8 de setembro de 2018

Spohr: Sonatas for Harp and Violin (BIS, 2018)

Quando se preparava já para largar o posto de concertino em Gota (uma pequena peça no puzzle dos ducados ernestinos, na região da Turíngia), Spohr dirigiu a sinfonia ‘Júpiter’, de Mozart, começando por apontar a ponta do arco do seu violino para o Olimpo e semeando raios e trovões pelos membros da corte. Entre a assistência estava Weber, que escreveu assim: “De andamentos vivos e bem escolhidos, as necessárias luz e sombra e sentimentos coesos, é raro escutar uma apresentação tão boa desta obra tão difícil. O prazer do escriba é mitigado apenas por lhe estar prestes a ser vedado o acesso a tamanha perfeição, pois Spohr vai abandonar o cargo.” Não partiu sozinho, claro, levando consigo Dorette Scheidler [na miniatura de Carl Gottlob Schmeidler], a harpista com a qual havia entretanto casado – “Estava tão comovido que mal consegui segurar as lágrimas. Fiz-lhe uma vénia, retirei-me da sala e deixei o meu coração para trás”, foi o que contou Spohr da primeira vez que a ouviu tocar. Conforme concluiu Clive Brown, em “Louis Spohr: A Critical Biography”: “É adequado que um evento tão importante na sua vida pessoal coincida com o aparecimento de um estilo mais individual na sua escrita.” 

E uma das mais interessantes formas de o identificar será através das sonatas concertantes para violino e harpa que compôs com o charme e virtuosismo de Dorette em mente, entre 1806 e 1811, ainda em Gota, e que o casal veio posteriormente a incluir em recitais conjuntos por Itália, França e Inglaterra. No que de mais espontâneo e imaginativo possuem, aliás, reconhecem-se elementos do seu estilo maduro, numa técnica mais fluida e cromática, sujeita a inesperadas modulações e a impulsos menos canónicos, não obstante, aqui, procurar-se mais a “execução bela” do que a “execução correta”, distinção presente num tratado de violino de Spohr a que Brown alude no seu livro. Brown foi orientador da tese de doutoramento de Nagasawa, o que explica a flexibilidade deste registo, cúmplice do melhor que um casal partilha da sua vida a dois, com Bernardini a lembrar o que disse Paganini sobre Spohr: que ninguém punha o violino a cantar como ele.

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