Hiroko Sasaki, piano
Em abril de 2010, dias antes de apresentar estes
“Prelúdios” no Auditório Weill do Carnegie Hall, em Nova Iorque, Hiroko Sasaki
declarava a um blog de atualidade
cultural: “Debussy colocou marcações absolutamente extraordinárias nas suas
pautas. Mas, no caso dos ‘Prelúdios’, vale a pena referir que escreveu os
títulos no fim de cada peça, entre parêntesis, precedidos por reticências, quase
como quem diz: ‘Se desejar ouvir as coisas desta maneira, esteja à vontade, mas
é só mesmo se quiser’. Acho belo que apareçam assim, como uma adenda, mas
levo-os o mais possível à letra. Quando toco as primeiras notas de ‘Passos na
Neve’ fico sozinha numa paisagem em que tudo é muito frio e branco e gelado e
solitário. Em ‘As Colinas de Anacapri’ estou a sul, numa ilha, sentindo a brisa
no rosto, com o azul celeste do Mediterrâneo em fundo.” É verdade que a visão
que a japonesa possui destes dois livros é de tal modo atmosférica que poderia
ilustrar um boletim meteorológico. E o próprio Debussy, por altura de “Estampes”,
falava em termos de um suprimento qualquer para os que não tinham hipótese de
viajar. Mas não se pode dizer que os instintos da pianista estejam
completamente sedados: quando um prelúdio a guia por uma viela escura, ela
acautela-se; quando outro, ao luar, sugere sentimentos pitorescamente
vulneráveis, ela mostra recato. Em sua defesa, como a arma secreta de um
super-herói, um Pleyel de 1873, no qual consegue “expressar aspetos dos
‘Prelúdios’ a que não acedia através de instrumentos modernos.” Escutá-la é encontrar
a solução para um problema que se tinha já como irresolúvel: como combinar
lirismo, forma e mistério na devida proporção