2 de junho de 2018

African Scream Contest Vol. 2: Benin 1963-1980 (Analog Africa, 2018)

Mais abrangente que o primeiro, o segundo volume de “African Scream Contest” tem início em 1963, no ano em que Hubert Maga foi afastado da presidência da República do Daomé – num livro de Dov Ronen (“Dahomey: Between Tradition and Modernity”), de modo a justificar a tomada de poder político pelos militares, identificam-se causas como o “estilo de vida luxuoso dos governantes, o aumento abusivo do número de cargos ministeriais, as exigências sociais insatisfeitas, as promessas não cumpridas, o aumento do custo de vida e as medidas antidemocráticas que martirizavam o povo e o reduziam a nada”. O costume. Faltava só mencionar o elefante na sala: tensões tribais. De facto, nove anos e cinco golpes de Estado depois, quando Kérékou lançou a futura República Popular do Benim na marcha triunfal rumo ao marxismo-leninismo, era a desintegração da pluralidade étnica do país que dava mostras de pretender. Estava a tapar o sol com a peneira, conforme o tempo veio a provar. 

Mas a verdade é que enquanto permaneceu à frente do governo se promoveu aquele tipo de folclore apócrifo que imediatamente reconduziu aos subterrâneos a mais fraturante música da nação, produzida por nomes como Sympathics de Porto Novo, Ignace de Souza, Sunny Black’s Band, Picoby Band d’Abomey, Antoine Dougbé, Black Santiago, Lokonon André et Les Volcans, Super Borgou de Parakou, El Rego et ses Commandos, Gnonnas Pedro ou, o maior entre eles, Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou (na foto). Desde 2008, logo após a fundação da Analog Africa, Samy Ben Redjeb tem-se dedicado à escavação do seu passado, olhando agora para o gira-discos como arqueólogos terão um dia visto a boca do sarcófago de um faraó. Numa entrevista recente, falou nestes termos: “Tropeçar na música do Benim foi como receber uma dádiva de Deus. Não sou crente, mas acho que cada ser humano recebe uma bênção uma vez na vida – essa foi a minha. Aqui, há sempre algo de muito familiar, mas é como se ouvíssemos música de um universo paralelo.” De um universo em que a poesia se tivesse sobreposto à política, por exemplo, ou de outro em que se pudesse viver para sempre. E, na maior parte dos casos, é precisamente disso que tratavam estes escravos do ritmo do vodu.

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