2 de junho de 2018

Bartók: Concerto for Orchestra; Piano Concerto Nº 3 (Harmonia Mundi, 2018)

Aos EUA chegavam boas novas de Guadalcanal, uma das Ilhas Salomão. Aliás, por todo o teatro de operações do Pacífico falava-se em avanços das Forças Aliadas, da Operação Cartwheel à Operação Hailstone ou das Carolinas e da Nova Guiné às Aleutas, no Alasca. Ao mesmo tempo, durante a Batalha do Atlântico, deu-se o Maio Negro, em que se infligiram perdas significativas na Marinha alemã. Já na Frente Oriental, após a Batalha de Estalinegrado, em que se contaram cerca de 120 mil baixas húngaras entre as forças do Eixo, travava-se a Batalha de Kursk, com a contra-ofensiva soviética a mostrar-se capaz de voltar a travar o blitzkrieg. De repente, estávamos em agosto de 1943, a um mês da Invasão da Itália pelos Aliados, e Béla Bartók, desde 1940 exilado em território norte-americano, sentiu-se subitamente alerta e revigorado, com menos tonturas e dores de cabeça, com a leucemia em remissão. 

Num rasgo de inspiração compôs “Concerto para Orquestra”, com aquele dispositivo praticamente cinematográfico a abrir, em que uma procissão de notas lentas conduz a ação da cidade para o campo e atravessa o oceano num voo noturno até fazer escala no Norte de África e, depois, na Europa Central. Aqui, é no segundo andamento – uma espécie de jogo de pares em que, dois a dois, em intervalos de sexta, terceira, sétima, quinta e segunda, participam fagotes, oboés, clarinetes, flautas e trompetas – que Heras-Casado (na foto) extrai o mais inusitado à sua orquestra. Quanto aos momentos mais grandiloquentes de Elegia ou Finale, a verdade é que esta acentuada oscilação entre desespero e esperança soa algo simplista. Curiosamente é no “Concerto para Piano Nº 3” que o espanhol – ou melhor, os espanhóis, pois Peranes revela-se exemplar – se prova mais apto a lidar com estes extremos na contrastada escrita de Bartók, porventura pelo seu carácter algo rapsódico, pelos seus episódios cromáticos, pelas suas síncopes, por aquelas linhas melódicas que desatam a cantar como se não houvesse amanhã. E não havia, claro. O compositor faleceu em setembro de 45 a reconciliar-se com a Alemanha de Bach, Beethoven e Brahms.

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