30 de junho de 2018

Agenda: Jazz im Goethe-Garten


Quando quis ver o mundo, o jazz andou de porta em porta, à procura de casa emprestada. Foi assim em 1946, na primeira Australian Jazz Convention, quando meia-dúzia de músicos acompanhou uma excursão rio Yarra acima e se apresentou de armas e bagagens em Eureka Hall, num subúrbio de Ballarat, Vitória. Já com devida pompa e circunstância se receberam Louis Armstrong, Django Reinhardt e Stéphane Grappelli na Ópera de Nice, em 1948, embora a fama tenha ficado toda para as jam sessions no Negresco. Por sua vez, em julho de 1954, foi o casino de Newport, no estado de Rhode Island, a acolher Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Lee Konitz, Eddie Condon, Oscar Peterson, Gerry Mulligan ou Dizzie Gillespie. Cada qual à sua maneira, três eventos que reclamam o título de primeiro Festival de Jazz da História. Claro que, com o passar dos anos, os infinitos desdobramentos e inevitáveis desmultiplicações do seu conceito-chave engendraram programas fadados a soçobrar sob o seu próprio peso: salvo raríssimas exceções, exatamente aquele tipo de atuações incapaz de gerar espanto, desprovido de incerteza e risco e espírito de aventura e que se diria seguir no sentido contrário à deontologia da coisa. Mas desesperar, jamais, como é costume dizer-se. Porque o jazz prospera sempre que alguém atira a prudência pela janela, eis que chega mais uma edição do Jazz im Goethe-Garten ao jardim do Goethe-Institut, em Lisboa: são seis concertos, sempre às 19h, e que arrancam dia 3 com o trio de Gonçalo Almeida, Rodrigo Amado e Marco Franco (na foto, por Vera Marmelo), autor, no ano passado, do extraordinário “The Attic”; dia 4, outro trio, o neologista Chaosophy, devoto do humor mais contrariador; dia 5, o quarteto de Gabriele Mitelli, numa espécie de fluxo de consciência mas também de corrente elétrica; dia 6, o heterónimo Heinz Herbert Trio (dos irmãos Ramon e Domenic Landolt e de Mario Hänni), algo como jazz em transtorno dissociativo; dia 12, o duo de Katharina Ernst e Martin Siewert, que não se deverá ficar pela sua habitual delicadeza de casa de bonecas; dia 13, a encerrar, a casa vem abaixo com os demolidores Gorilla Mask.

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